SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, anunciou a renúncia do governo nesta segunda-feira (10), quase uma semana depois da megaexplosão que destruiu grande parte de Beirute e deixou mais de duas centenas de mortos.

A saída do premiê era uma das principais exigências dos manifestantes que tomaram às ruas do país durante o fim de semana -grande parte dos libaneses considera que a negligência do governo é a principal causa da explosão.

No discurso transmitido pela TV no qual anunciou a sua saída, Diab fez coro às críticas dos manifestantes e atacou a elite política do país.

“Esse desastre é o resultado da corrupção endêmica”, disse o premiê. “Eu já disse que a corrupção está encrustada em todas as partes do Estado, mas descobri que a corrupção é maior do que o Estado”, completou ele.

“A classe política está usando todos os truques sujos para impedir uma mudança real”, afirmou.

A renúncia de Diab e do restante do gabinete foi aceita pelo presidente Michel Aoun, mas ele e seus ministros devem permanecer em seus cargos até que um novo governo seja formado.

O Líbano vive uma longa crise econômica e política, que piorou ainda mais com a explosão da última terça (4). De acordo com o governador de Beirute, Marwan Abboud, o número de vítimas da tragédia subiu para ao menos 220 mortos, 6.000 feridos e 110 desaparecidos.

Antes do premiê, pelo menos quatro ministros e nove deputados libaneses também já haviam deixado seus cargos nos últimos dias, pressionados pelos protestos que levaram dezenas de milhares de pessoas às ruas contra o governo.

Pela lei libanesa, o premiê é obrigado a renunciar caso perca mais do um terço (ao menos 7) de seus 20 ministros.

Segundo o jornal The Guardian, parte do gabinete avisou Diab durante uma reunião de emergência na manhã desta segunda que iria renunciar para obrigar o premiê a fazer o mesmo caso ele não aceitasse deixar o cargo de maneira voluntária.

Sem alternativa, o premiê cedeu a pressão e decidiu deixar o cargo junto com o restante do gabinete.

Membros da alta cúpula do governo se reuniram nesta segunda para discutir, entre outros tópicos, os impactos políticos da explosão na zona portuária da capital libanesa.

Antes de Diab, outros quatro ministros formalizaram sua saída do governo. Um deles renunciou ao cargo um dia antes da explosão em Beirute.

O ex-ministro de Relações Extreriores, Nassif Hitti, deixou seu posto na véspera da explosão com advertências de que “a ausência de vontade efetiva de alcançar uma reforma estrutural abrangente” poderia transformar o Líbano em um Estado fracassado.

Após a explosão, a primeira a renunciar foi a ministra da Informação, Manal Abdel Samad, no domingo (9). Ela pediu desculpas aos libaneses por “não saber responder às suas expectativas”.

Pouco depois, o titular da pasta do Meio Ambiente, Damianos Kattar também anunciou sua renúncia “à luz da enorme catástrofe”, acrescentando que havia perdido as esperanças em um “regime estéril que estragou várias oportunidades”.

Nesta segunda, foi a vez de Marie-Claude Najm, ministra da Justiça. Ela disse que estava renunciando com a “convicção de que permanecer no poder nessas condições, sem uma mudança fundamental no sistema, não levará a reforma que trabalhamos para conseguir”. A agora ex-ministra pediu aos seus pares no Executivo que também deixem seus cargos.

O titular das Finanças, Ghazi Wazni, apresentou seu pedido de renúncia na reunião desta segunda-feira, mas sua saída ainda não havia sido formalizada.

A explosão na zona portuária de Beirute, cujas circunstâncias ainda não estão claras, teria sido causada por um incêndio que afetou um enorme depósito que armazenava 2.750 toneladas de nitrato de amônio, um composto químico usado para a produção de fertilizantes e de explosivos.

O governo prometeu responsabilizar os culpados, mas poucos cidadãos estão convictos de que isso acontecerá. Para muitos, a explosão foi uma terrível lembrança da guerra civil que durou de 1975 a 1990 e que dividiu a nação e destruiu áreas de Beirute, muitas das quais já haviam sido reconstruídas.

Informações preliminares indicam que o material estava no porto havia cerca de seis anos, trazido por um navio que fez uma parada em Beirute e acabou retido devido às más condições de manutenção.

A embarcação foi então abandonada pelos donos e pela tripulação, e o governo recolheu a carga para um depósito. Após a explosão, o governo ordenou a prisão domiciliar de ao menos 16 autoridades do porto, enquanto a investigação apura se houve negligência.

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