Carine Corrêa

Com a proximidade das eleições, a Igreja Católica em Rio Claro por meio de seus representantes tece nesta edição do Café JC algumas orientações aos eleitores rio-clarenses. Padre Antônio Sagrado Bogaz, da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, padre Cândido Aparecido Mariano, da Paróquia Bom Jesus, e o professor de Ética João Henrique Hansen são os convidados na entrevista. Confira a seguir na íntegra:

Jornal Cidade: Quais são as qualidades que devemos buscar nos candidatos?
Cândido: É sempre bom pesquisar a vida desse candidato, sua conduta moral e ética. Temos como recurso, por exemplo, a Ficha Limpa. Importante fazer uma pesquisa. Se tiver tido uma trajetória política, avaliar quais leis que favoreceu ao povo.
Hansen: Para uma mudança temos que selecionar muito bem, sabendo quem ele é, o que pretende fazer, qual sua plataforma política. Em uma cidade pequena na eleição para prefeito e vereadores, o povo se sente mais próximo. Podemos aproveitar essa proximidade e ver qual candidato atende mais às suas necessidades. Vemos uma série de fatores aqui na cidade, principalmente o hospital público que não temos. Não foi feito absolutamente nada pra isso até o momento. Vamos ver o que o candidato fez e o que não fez. Como diz o papa Francisco: política é uma caridade, tem que ajudar o próximo.
Bogaz: Gosto muito de uma citação que diz que devemos evitar deixar na política os políticos que se tornaram profissionais, e que estão há muitos anos na área se enriquecendo. Um fator que revela que o político não se interessou pelo povo é se ele era pobre e hoje ele está riquíssimo.

JC: Sobre os políticos que se aproveitam da religião para se promoverem, qual sua opinião?
Bogaz: A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) orienta para estimular os católicos a entrarem na política, mas não favorecendo os interesses da igreja, e sim a um bem comum. Esses lobbys que só se preocupam com egoísmo devem ser evitados. Desconfiem muito de quem muito utiliza o nome de Deus. Temos políticos em Brasília, em São Paulo e em Rio Claro que maculam o nome de Jesus.
Cândido: O político deve governar para a sociedade, pra cidade, e não para pequenos grupos.

JC: Os políticos procuram a igreja católica para atrair eleitores?
Bogaz: Os candidatos procuram todos os espaços e, portanto, também procuram a igreja pra conversar, dialogar e fazer proposta. O que procuramos falar a todos é um discurso padrão para que ‘mostre o que vai fazer para o povo’.
JC: Por que a igreja se preocupa com a política?
Hansen: Pelo papa anterior ser mais conservador, o católico não tinha essa possibilidade de entrar na política. Com a entrada do papa Francisco houve uma mudança muito grande. Ele então resolveu fazer um documento e falou sobre o escrito na TV do Vaticano. Ele começa de uma maneira muito clara: o que foi feito com Jesus, nós não vamos tolerar. Em seguida ele relembra que na Terra tem tudo pra todo mundo, no entanto temos crianças passando fome. Isso é incoerente. E quem é culpado de toda essa estrutura? O político que não trabalha em função do povo. Ele avança e vai dando todo o direcionamento: o católico tem que entrar na política de duas formas: ou através dos seus talentos ou sabendo votar. E como votar? Procurando mais dos candidatos e avaliando sua plataforma política. Ele diz que a política é uma caridade; a política tem que auxiliar os irmãos que estão precisando de ajuda.

JC: Qual a intenção da igreja na política?
Cândido: É transformar a sociedade no serviço aos pobres, defesa dos valores da vida através da ecologia, da paz. O papa mesmo lançou um documento valioso sobre o cuidado com o planeta. Ter um mundo mais justo e digno para todos. São poucos com muito e muitos sem nada.

JC: Quais as orientações dos bispos do Brasil?
Bogaz: Os bispos orientam para abandonar aqueles que prometeram e não cumpriram. Aqueles que se afundaram na corrupção, tanto na legal quanto na moral – que fizeram a lei pra corromper. Esses são os corruptos mais perigosos, porque são os mais sutis. Falam também dos políticos viverem com mais simplicidade, não viverem em redomas, distantes do povo, inatingíveis, em grandes palácios e edifícios onde o povo não consegue chegar. Finalmente dizem que devemos buscar pessoas que defendam a vida.
Hansen: Percebemos claramente que a coisa vem de cima. O papa Francisco colocou tudo isso de forma muito clara. O papa foi cardeal na Argentina e como religioso ‘comeu fogo’ do governo pelas ideias contraditórias que tinha. Vem de alguém que viu tudo isso. Vendo tudo isso, colocou suas normas que foram aceitas por todos.

Padres e professor ressaltam que a política ‘é uma caridade com função de auxiliar os irmãos que estão precisando’. Os entrevistados falaram ainda sobre as mudanças com a entrada do papa Francisco

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