***FOTO DE ARQUIVO*** SÃO PAULO, SP, 08.09.2016: TEATRO-SP – A atriz Nicette Bruno na pré-estreia do espetáculo “33 Variações”, com direção de Wolf Maya, no Teatro Nair Belo em São Paulo. (Foto: Bruno Poletti/Folhapress)

GUSTAVO FIORATTI – SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Artista de pulso empreendedor e atriz dedicada à profissão, Nicette Bruno morreu neste domingo (20), por complicações da Covid-19. Ela estava internada na Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, desde 29 de novembro, dia em que sua filha, a também atriz Beth Goulart, pediu orações para a mãe. A morte foi confirmada por sua neta, Vanessa Goulart.

Por trás de sua longeva história no teatro e na televisão e da extensa galeria de personagens femininos que formou em mais de 70 anos de carreira, reside a mulher determinada que tão cedo, antes da maioridade, produziu peças e administrou companhias.

Filha de artistas, Nicette Xavier Miessa nasceu em Niterói e estudou piano na infância. Com quatro anos, participou de um programa infantil de rádio, sua estreia. Entre seus primeiros papéis no teatro, ainda na fase amadora, está Julieta, protagonista da peça “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare.

Nicette considerava que o ingresso na vida profissional ocorrera na peça “A Filha de Iório” (1947), de Gabriel D’Annunzio, em montagem criada pela companhia da atriz Dulcina de Moraes (1908-1996), ícone do teatro brasileiro na década de 1940, mestra do ofício em um momento pré-modernização das artes cênicas.

Aos 16 anos, Nicette tentou criar uma companhia de teatro no Rio de Janeiro. Em seu empenho –muitas vezes, em entrevistas, ela falou sobre o episódio–, Nicette procurou o presidente Getúlio Vargas para pedir dinheiro. Frustrada com uma promessa não cumprida do governante, no início dos anos 1950, aos 17 anos, veio a São Paulo com a tarefa de administrar uma sala, o Teatro de Alumínio.

Só então começou a formar a companhia Nicette Bruno e Seus Comediantes, que em 1953 migrou para sala vizinha com o nome Teatro Íntimo Nicette Bruno. Neste início de trajetória, a atriz entrou para a roda de profissionais traçando novos caminhos para o teatro nacional, com o diretor Antunes Filho e o ator Walmor Chagas entre eles.

A época foi marcada pelas novas propostas estéticas trazidas a São Paulo pelos diretores italianos, como Ruggero Jacobbi, com quem Nicette trabalhou em “Senhorita Minha Mãe”, de Louis Verneuil, e em outras peças.
O ator Paulo Goulart iniciou sua carreira também no Teatro Íntimo de Nicette, nesta mesma produção de 1952. Em 1954, os dois se casaram. A vida matrimonial durou até a morte de Goulart em 2014. Como ele, Nicette teve três filhos, Beth, Paulo Júnior e Bárbara, que também se tornaram artistas.

O casal ficou conhecido também por ter se dedicado ao Kardecismo.

Na televisão, Nicette estreou na TV Tupi nos anos 1960, fazendo participações em recitais e teleteatros. Atuou em “A Corda”, uma adaptação do filme “Festim Diabólico” (1948), de Alfred Hitchcock, dirigido por Jacobbi, com Cassiano Gabus Mendes no elenco.

Na TV Excelsior, interpretou a mocinha Clara na novela “Sangue do Meu Sangue” (1969). Ela era a mulher do protagonista do folhetim, Carlos, que perde a memória em uma acidente e deixa de reconhecê-la.

Sem nunca deixar de lado o teatro, Nicette passou ao primeiro time de atores da Globo, emissora que a contratou em 1980 para fazer o papel de uma freira em “Obrigado Doutor”, ao lado de Francisco Cuoco. Nicette passou a ser preferida em papéis bem comportados, mães zelosas, mulheres dedicadas.

Com esse perfil, fez parte do elenco de novelas como “Selva de Pedra” (1986) e “Rainha da Sucata” (1990), além de ter atuado em minisséries, como “Meu Destino É Pecar” (1984), adaptação para obra de Nelson Rodrigues. Houve ao menos uma vilã, embora pouco expressiva, em seu repertório: Úrsula, da novela das seis “O Amor Está no Ar” (1997), que rivalizava com a nora, interpretada pela atriz Betty Lago.

Entre 2001 a 2004, atuou em nova versão do programa infantil “Sítio do Picapau Amarelo”, no papel de Dona Benta.

Entre os espetáculos que Nicette estrelou paralelamente à carreira na TV, está “Somos Irmãs”, sucesso absoluto de público sobre a trajetória das irmãs Linda e Dircinha Batistas, ícones da música brasileira nos anos 1930 aos 1950. Dirigida por Cininha de Paula e Ney Matogrosso, a peça rendeu a Nicette um prêmio Shell.

Nos últimos quinze anos, ela continuava atuante no teatro, no cinema e na televisão. Seu último papel na telinha foi Madre Joana, no remake da novela “Éramos Seis” (2020). No ano passado, fez uma judia possessiva em “Órfãos da Terra”.

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