(Foto: Carlos Blaya)

Estadão Conteúdo 

A Orquestra do Theatro São Pedro deixará de ser um grupo profissional, sendo composta a partir de agora também por estudantes de música. A decisão foi publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo. Atualmente, o conjunto é formado por 52 músicos: 19 serão demitidos, substituídos por bolsistas da Escola de Música do Estado de São Paulo (Emesp). Os músicos falam em “desmonte”, enquanto o governo defende a medida como forma de garantir a sobrevivência da programação. Esta é a primeira decisão anunciada desde que o São Pedro passou a ser administrado pela Santa Marcelina Cultura, no dia 2; outras mudanças incluem a troca na direção artística e a fusão da academia de canto do teatro com o Ópera Estúdio da Emesp.

O Teatro São Pedro era administrado desde 2012 pelo Instituto Pensarte. No início do ano, um novo edital para organizações sociais foi realizado, mas apenas o Pensarte concorreu. Após denúncias de favorecimento no processo, no entanto, o edital foi suspenso pela Justiça. Como o contrato com o Pensarte se encerrava no dia 30 de abril, e após a orientação da Procuradoria Geral do Estado, para quem a prorrogação configuraria improbidade administrativa, a secretaria resolveu passar a gestão do São Pedro para outra organização social, a Santa Marcelina Cultura, já responsável pela Emesp e pelo Projeto Guri da Capital – a Jazz Sinfônica, também administrada pelo Pensarte, será agora gerida pela Fundação Memorial da América Latina (na semana passada, a secretaria havia falado na Fundação Padre Anchieta).

No sábado, foram publicados os termos do aditamento ao contrato da Santa Marcelina, agora incluindo o São Pedro, com as informações a respeito das demissões na orquestra. Em resposta, os músicos do grupo emitiram comunicado na manhã desta terça-feira, 9, no qual afirmam que se deu “oficialmente o desmonte da Orquestra do Theatro São Pedro, única orquestra especializada em ópera em atividade no Brasil”. “A transição do contrato de gestão do Instituto Pensarte, sem licitação, para a Santa Marcelina Cultura, extingue o projeto original, ou seja, 55 músicos profissionais, altamente capacitados, que realizaram rigoroso processo seletivo e, desde então vem executando um trabalho de excelência artística”, diz o texto.

O secretário adjunto Romildo Campello defendeu a medida e a justificou dentro de um investimento em formação. “O quadro que herdamos nos dava três opções. Parar todas as atividades, prorrogar o contrato, o que foi questionado pela Procuradoria, ou interpretar o papel do teatro e propor uma alternativa. Entendemos que o São Pedro, pelo investimento que já fazia em formação, com a Academia de Ópera, caberia bem na Santa Marcelina”, diz. “Os contratos, então, foram passados de uma OS para a outra, com cortes relacionados à sobreposição de funções “.

Paulo Zuben, da Santa Marcelina Cultura, afirma que, com a verba prevista, R$ 7, 4 milhões até o final do ano, serão mantidas as metas de programação: mais quatro montagens de ópera, 30 recitais de música de câmara e 14 concertos sinfônicos. Segundo ele, todos os 24 cantores da Academia de Ópera serão mantidos, agora como parte do Ópera Estúdio da Emesp.

Apesar da manutenção da programação, a ideia do São Pedro como uma companhia estável, com cantores fixos e diretores e cenógrafos residentes foi abandonada. Para Zuben, o número de produções não justificava a presença de um grupo estável. “O custo era muito alto, por isso resolvemos trabalhar ópera a ópera, por empreitada.” Segundo ele, o maestro Luiz Fernando Malheiro, atual diretor artístico do teatro, foi convidado a seguir trabalhando neste novo contexto, e a programação será decidida por um conselho artístico. Procurado pelo Estado, Malheiro, que está em Manaus, onde dirige o Festival Amazonas de Ópera, afirmou que não recebeu nenhum convite. “Não recebi sequer um telefonema da parte dele ou da secretaria sobre a minha demissão e a de toda minha equipe, um descaso total”, disse.

O maestro também gravou um vídeo, publicado em redes sociais, no qual afirma estar muito triste com a decisão de fazer da orquestra um grupo de alunos e profissionais, o que vai acarretar, segundo ele, em “grande perda de qualidade”. “É triste que um projeto tão bem sucedido, que atingiu um nível alto e desenvolveu uma nova maneira de fazer ópera no Brasil, seja desmontado. E que essas talvez necessárias modificações sejam feitas de maneira tão unilateral. Fica aqui o meu apelo às autoridades responsáveis para que se sensibilizem e para que um projeto criado por esse governo não seja destruído pelo próprio governo”, diz o maestro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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