Ednéia Silva

abelhas
A morte dos insetos é causada por uma série de fatores, inclusive o uso de determinados tipos de defensivos agrícolas nas lavouras

Apicultores brasileiros vêm enfrentando problemas com o sumiço das abelhas. A mortandade dos insetos afeta diretamente a produção de mel, mas também prejudica outras culturas que dependem da polinização para se desenvolver e gerar frutos. A morte dos insetos é causada por uma série de fatores, inclusive o uso de determinados tipos de defensivos agrícolas nas lavouras.

Flávia Salustiano, gerente da Abemel (Associação Brasileira dos Exportadores de Mel), comenta que o desaparecimento das abelhas vem ocorrendo há algum tempo em escala mundial. Com isso, a produção de mel e de própolis fica prejudicada, atrapalhando o abastecimento do mercado interno e a exportação dos produtos.

Flávia observa que, embora o ano de 2014 esteja sendo positivo com relação à exportação, é preciso tomar medidas para proteger as abelhas. Ela conta que a Abemel apoia a campanha “Sem abelhas, sem alimentos”, que tem como objetivo sensibilizar a sociedade e mobilizar as autoridades para combater as causas do sumiço das abelhas. A campanha tem uma página na internet (www.semabelhasemalimento.com.br) para divulgar informações e coletar assinaturas para a Petição pela Proteção às Abelhas.

A gerente explica que a relação entre as abelhas e os alimentos é que elas são indispensáveis para a sobrevivência de várias culturas. Segundo especialistas, as abelhas são responsáveis pela polinização de cerca de 70% das culturas, que respondem por 90% da oferta global de alimentos. Como exemplo, Flávia cita os índices de polinização das abelhas em algumas culturas: laranja (27%), maçã (90%), amêndoas (100%), pêssegos (48%), soja (5%), etc.

O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) está investigando o extermínio de abelhas por intoxicação por agrotóxicos em colmeias de São Paulo e Minas Gerais. Os estudos com inseticidas do tipo neonicotinoides devem ser concluídos no primeiro semestre de 2015. Enquanto o resultado não sai, o Ibama proibiu a aplicação aérea dos produtos na época da florada.

Estudos sobre o sumiço das abelhas também vêm sendo feitos nas universidades. Pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro e da UFSCar de Araras e Sorocaba estudam os efeitos dos pesticidas sobre os polinizadores e alternativas de proteção desses insetos.

A professora Roberta Cornélio Ferreira Nocelli, do Departamento de Ciências da Natureza da UFSCar de Araras, estuda a influência dos defensivos agrícolas sobre as abelhas e o consequente impacto na produção de alimentos. Segundo ela, a contaminação das abelhas pelos defensivos agrícolas ocorre pelo contato direto com o pesticida e também pela ingestão de pólen e néctar das flores contaminadas.

Um dos efeitos causados pelos agrotóxicos é a perda de orientação. As abelhas saem e não conseguem retornar às colmeias. Os pesticidas também prejudicam o processo de aprendizagem das abelhas, que são capazes de memorizar odores florais e de se comunicar. Os pesquisadores estão fazendo um mapeamento dos apiários brasileiros e das lavouras próximas para compreender a interação entre apicultores e agricultores e promover o cultivo saudável de abelhas e alimentos.

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