Carlo Burigo fala sobre a previsão do tempo

Adriel Arvolea

Carlo Burigo fala sobre a  observação, coleta e análise dos principais elementos meteorológicos
Carlo Burigo fala sobre a observação, coleta e análise dos principais elementos meteorológicos

Carlo Burigo é técnico Agrícola desde 1987, formado pela Escola Técnica Benedito Storani, em Jundiaí. Há 20 anos, trabalho como técnico da estação meteorológica do Centro de Análise e Planejamento Ambiental (Ceapla) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Rio Claro. Em entrevista aos jornalistas Adriel Arvolea e Fabíola Cunha, Burigo fala sobre a observação, coleta e análise dos principais elementos meteorológicos, e das mudanças climáticas registradas nos últimos tempos.

Jornal Cidade – Qual a estrutura que a estação meteorológica do Ceapla dispõe para a coleta de dados meteorológicos?

Carlo Burigo – Temos duas estações automáticas, sendo a Davi – modelo americano – e Vaisala – padrão do Instituto Nacional de Meteorologia; e uma convencional (mecânica). Contamos, ainda, com sensor de descargas elétricas (em operação). A partir desses recursos, medimos temperatura, umidade, vento, pressão atmosférica, índice pluviométrico, radiação solar e ultravioleta, e descargas elétricas. Funciona de segunda a segunda, com medições às 7h, 9h, 15h e 21h (coleta manual), e de cinco em cinco minutos, de hora em hora e dez em dez minutos (Vaisala).

JC – Que trabalhos competem à estação meteorológica?

Carlo Burigo – É bom explicar que não fazemos previsão do tempo, e sim a coletas de dados para análise de meteorologistas e posterior previsão do tempo.

JC – Hoje em dia, qual é o índice de acerto para a previsão do tempo?

Carlo Burigo – Após alguns eventos climáticos que resultaram em tragédias, como o furacão Catarina, o governo passou a investir em recursos meteorológicos. O que se tem hoje é quase 100% de exatidão para uma previsão de até dez dias.

JC – Quais fatores influenciam nas alterações da previsão climática?

Carlo Burigo – Deslocamento de massas de ar e condições de relevo são fatores que podem alterar uma previsão.

JC – Em 20 anos de dados coletados em Rio Claro, que mudanças climáticas ocorreram ao longo desse tempo na cidade?

Carlo Burigo – O clima está mais quente. Em 1994, tínhamos mínimas de -1,8ºC. Na década de 90, temperaturas de 1ºC eram mais frequentes. Nos últimos anos, têm sido registradas mínimas entre 2ºC e 3ºC, mas que não duram mais de dois dias. Além disso, as chuvas estão mal distribuídas. Chove no início e final do ano, sendo que nos demais meses não haja precipitação. Esse foi o verão mais seco dos últimos 20 anos.

JC – Que projeção pode ser feita para Rio Claro com relação ao clima neste ano?

Carlo Burigo – De março a maio deste ano, a partir de levantamento do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTec), é possível apontar chuvas dentro da média esperada – 210 milímetros – e temperaturas no outono mais altas, passando de 22-23ºC para 24-25ºC.

JC – E como ficará o clima mundial daqui para frente?

Carlo Burigo – Falam muitas coisas, mas acredito em interesses financeiros e políticos. Estão ocorrendo mudanças, muitas extremas, claro. No entanto, depende da mentalidade dos governantes querer fazer algo pelo clima, cuja situação influencia diretamente nas nossas vidas, nas decisões econômicas e políticas da sociedade.

JC – É possível reverter a situação?

Carlo Burigo – Para tudo se dá um jeito. Acredito que essa postura dependerá das futuras gerações. É preciso pensar: há quanto tempo o homem está destruindo? Então, essa tarefa é a longo prazo e com custos muito elevados.

JC – Que fatores têm contribuído para as mudanças climáticas?

Carlo Burigo – Emissão de CO2, crescimento urbano desordenado, desmatamento, mais carros em circulação, produção crescente de lixo são algumas das causas para a situação que estamos vivenciando.

JC – Deixe uma mensagem para os leitores do Jornal Cidade.

Carlo Burigo – Que a população seja mais consciente e preserve a natureza, o meio em que vive. Só assim poderemos mudar o nosso meio.

A Estação

A Estação Meteorológica de Rio Claro foi inaugurada em 1993 em convênio com a prefeitura, dentro das Normas da Organização Meteorológica Mundial. As coletas de dados meteorológicos foram iniciadas em janeiro de 1994. No final desse mesmo ano, foram implementados novos instrumentos cedidos pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo.

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