Folhapress/ Isabella Galante

Seis em cada dez jovens são críticos com o seu estado emocional e a qualidade de seu sono. É o que aponta a terceira edição da série de pesquisas “Juventudes e a pandemia: e agora?”, publicada nesta terça-feira (27).

O estudo foi realizado com 16.326 brasileiros de 15 a 29 anos e levantou dados sobre saúde, educação, trabalho, democracia e redução das desigualdades. Os dados foram coletados entre 18 de julho a 21 de agosto de 2022 por meio de um questionário online com 71 perguntas.

No âmbito da saúde, o levantamento revela que, ainda que o surto causado pela Covid-19 esteja controlado, o medo de perder familiares ou amigos é constante para a maioria dos jovens. Outras preocupações marcantes são a possibilidade de pandemias futuras e dificuldades financeiras. O documento é uma publicação do Atlas das Juventudes.

Mariana Resegue, coordenadora do atlas e da organização Em Movimento, afirma que os resultados de 2022 são similares aos dos anos anteriores e mostram uma tendência.

“Esses dados de saúde mental já eram muito graves, o contexto era preocupante. Mas a pandemia agravou uma série de questões, e a saúde mental faz parte disso”, diz.

Além das mortes e perdas físicas e financeiras, a pandemia teve um efeito devastador na saúde mental. Seis em cada dez jovens relataram episódios de ansiedade nos últimos 12 meses, segundo o relatório, além de metade vivenciarem cansaço e exaustão frequentes.

O psicólogo e psicanalista Tiago Caxias afirma que “as pessoas tiveram que rever seus conceitos e atitudes com relação às suas certezas, verdades, ao consumo e ao seu desejo”. Por isso, quando a reconexão com o mundo teve que ser feita, houve uma desestabilização, diz.

Para o profissional, a juventude sempre foi complexa, pois é uma fase na qual diversas adaptações ocorrem. O aumento de incertezas e perdas ocasionadas pela Covid-19, porém, gerou uma sobrecarga emocional ainda maior, além de um agravamento dos transtornos mentais. Caxias percebeu esse movimento quando adolescentes começaram a procurar mais por seus serviços.

O relatório também mostrou que 44% dos entrevistados relataram falta de motivação para as atividades cotidianas e 18% indicaram diagnóstico de depressão, além de 9% que apontaram a automutilação ou pensamentos suicidas como resultado direto da pandemia no último ano -entre a população LGBTQIA+ este número chegou a 19%.

Parte deste resultado pode ser explicado pelo uso excessivo das redes sociais, uma prática presente na vida de 53% dos jovens. Para o psicólogo, as ferramentas podem proporcionar uma falsa ideia de que “as pessoas são lindas, felizes, bem-sucedidas e maravilhosas”.

COMO QUEBRAR O CICLO

Para 74% dos participantes cresceu a importância da atenção à saúde mental. O bem-estar psíquico ganhou destaque, o que ajudou a diminuir preconceitos e reconhecer gatilhos e fatores de risco.

A psicoterapia é apontada como prioridade na busca do equilíbrio emocional em 46% dos relatos ao Atlas das Juventudes. Outras práticas incluem atividades físicas, hobbies e a socialização com amigos.

Caxias indica que pessoas próximas devem estar atentas às mudanças radicais no comportamento, como insônia, muito sono ou apatia, além de estarem dispostas a ouvir e oferecer acolhimento.

“A comunicação é tudo no ser humano. Quando a gente não consegue se comunicar e dizer o que está sentindo, isso vai trazer prejuízo, porque é uma forma de rejeição”, afirma.

Mariana Resegue, contudo, diz que o bem-estar não pode ser encarado de forma isolada. “A gente precisa garantir os direitos básicos para que as juventudes possam ter uma saúde mental estável”.

A coordenadora do estudo defende que, para isso, seja elaborado um plano que envolva metas setorizadas e conecte áreas transversalmente. “Não adianta pensar só em saúde mental e não pensar em evitar a evasão escolar, sem garantir renda, sem pensar nas populações mais vulneráveis, como negros e comunidades LGBTQIA+”, conclui.

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