Sabe aquela impressão de que os ciclistas estão por todo o lado da cidade? Não é só achismo e  a ‘Reportagem da Semana’ deste domingo (7) vai mostrar que os números confirmam: as vendas de bicicleta no Brasil aumentaram 34,17% no primeiro semestre de 2021 em relação ao mesmo período de 2020, de acordo com a Aliança Bike, que reúne lojistas e empresas voltadas ao transporte sustentável.

Em Rio Claro, não é diferente. Cada vez mais o município se move sobre duas rodas, tendo em vista o aumento na frota de bicicletas. De acordo com o último levantamento do Departamento de Mobilidade Urbana, vinculado à prefeitura, a cidade tinha, em 2017, aproximadamente 110 mil bicicletas pelas ruas. Na época, o número já era mais da metade dos rio-clarenses. Agora, parece ter aumentado, mesmo sem dados oficiais atualizados que sustentem essa tese.

O meio de transporte, que não polui o meio ambiente, vem se tornando uma opção cada vez mais comum tanto para ir e vir do trabalho, como para fazer outras atividades do dia a dia, principalmente agora com  a alta de 3,1% do combustível, chegando a R$ 6,56 o litro da gasolina. Isso tornou a ‘magrela’ bem mais atrativa até para quem tem carro em casa.

Entre os ciclistas que fizeram o mercado girar está Fernando Pierri, de 40 anos, que desistiu de pegar o carro para ir ao trabalho em uma oficina no bairro Jacutinga, em Rio Claro, há dois meses. O martelinho de ouro trocou o estresse provocado pelo trânsito e pelo aumento da gasolina pela praticidade e economia da bicicleta.

De forma resumida, ele contou ao JC que gastava, em média, R$ 70 por semana para abastecer e ir do Vila Nova, onde mora, até a oficina. No mês, esse valor chegava a R$ 280. Ao todo, a distância é de 5,5 km por dia. Fernando sai de casa pela manhã e leva 10 minutos para chegar ao trabalho, metade do que levava de carro, que fazia o trajeto em 20.

“O preço dos combustíveis está exorbitante no Brasil, fora as manutenções que o veículo necessita e que estão muito caras. Não dava mais. Abortei a missão e comprei uma bike parcelada. Eu pago ela só com o dinheiro que eu economizo de gasolina e ainda sobra”, disse.

Em 2019, Fernando financiou um veículo de ano 2016 e, quando terminar de pagar, em janeiro próximo, pretende se desfazer. “Eu uso ele muito pouco, só para ir à São Paulo capital de vez em quando. Por isso, quando eu for, a melhor opção é alugar. Devolvo o carro sem me preocupar com despesas e manutenção”, completou.

Melhoria no corpo e no bolso 

Segundo a organização britânica National Cycling Charity, ciclistas vivem dois anos a mais do que os não ciclistas. Eles ainda faltam 15% menos do serviço. O estudo mostra, ainda, que pedalar faz bem para os músculos, melhora o equilíbrio, turbina o fôlego e ajuda a controlar o peso.

Foi pensando nisso que Fernando também parou com um vício que o acompanhou por três anos: o cigarro. Em média, ele gastava R$ 300 por mês, que agora está economizando. Ele até ganhou um fôlego a mais para encarar as subidas. 

“Com as pedaladas, acabei me sentindo mais ofegante e necessitando de mais oxigenação. Consequentemente, fui obrigado a largar o cigarro. Foi só benefício”, explicou.

Com o dinheiro que sobrou, o martelinho de ouro conseguiu até se matricular em uma academia, coisa que já tinha vontade de fazer, mas não dava porque não sobrava dinheiro no fim do mês. Agora, o que gastava em cigarro por mês, já paga seis meses de treino.

Faça chuva ou faça sol, seu Hermídio vai pedalando

Aos 75 anos de idade, seu Hermídio Seneme esbanja saúde e força de vontade. Há 23 anos não usa mais o carro para trabalhar em Rio Claro. O mecânico sai do bairro do Estádio, onde mora, e vai pedalando pela movimentada Avenida Tancredo Neves para chegar ao trabalho no Jardim Paulista. Ele trabalha próximo ao quilômetro 176 da Rodovia Washington Luiz.  Ao todo são quatro viagens, pois ele faz questão de almoçar em casa. Ou seja, no total, pedala 12 km por dia.

“Tenho carro em casa, mas faço esse trajeto de bike há 23 anos. É muito mais fácil para se locomover no dia a dia. Outra que ajuda também na economia, afinal, está cada vez mais difícil abastecer. Está arrebentando todo mundo essas altas. Fora que a bicicleta você pode estacionar com mais facilidade”, comentou. 

Sobre o trânsito da cidade, ele comentou. “Não tenho problema nenhum, pois também sou um respeitador. Sempre ando na minha mão, não atravesso na frente de ninguém, não abuso, pois sei que é perigoso”, disse.

Já em relação a saúde, o mecânico afirmou que até os médicos se surpreendem. “Tem me ajudado muito. Até os doutores se estranham quando eu faço os exames cardiológicos. Está tudo em perfeito estado”, finalizou.

Cidade das bikes

A preferência do rio-clarense pela bicicleta é centenária. O Velo Clube iniciou suas atividades em 1910 como uma agremiação de ciclismo, modalidade que foi o carro-chefe durante a primeira década do clube, mais tarde uma força do futebol no interior paulista.

Ao longo das décadas, a organização urbana da cidade se adaptou à crescente presença dos ciclistas e hoje Rio Claro possui aproximadamente 33 quilômetros de ciclofaixas, que são áreas para o uso de bicicletas delimitadas nas ruas e avenidas. Já as ciclovias ocupam espaços separados e, no município, somam 3,7 quilômetros de vias exclusivas para ciclistas. Além disso, Rio Claro realiza forte trabalho de base e é constante destaque em provas ciclísticas por todo o Brasil.

Questionada sobre o que a Administração Municipal está fazendo para incentivar os ciclistas, a assessoria de comunicação da prefeitura disse que a atenção neste momento está voltada em fazer as adequações na sinalização viária para ciclistas, necessárias em função de nova resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) editada há poucos dias.

“O departamento de Mobilidade Urbana e Sistema Viário também está preparando ação para ser iniciada no próximo semestre, focada no reforço da pintura de toda a extensão das ciclofaixas do município”, complementou, em nota.

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