Espaço vazio onde ficava a figueira centenária na Praça de São Benedito

Ednéia Silva

A prefeitura removeu na quinta-feira (3) os restos da centenária Figueira de São Benedito, localizada na praça na Rua 9 com a Avenida 13. Parte da árvore caiu depois de um vendaval em fevereiro do ano passado e uma boa parte foi cortada, restando apenas o tronco sustentado pela raiz. A remoção da árvore surpreendeu a comunidade negra, que lamenta a perda da figueira que faz parte da história dos negros em Rio Claro.

Espaço vazio onde ficava a figueira centenária na Praça de São Benedito
Espaço vazio onde ficava a figueira centenária na Praça de São Benedito

A presidente do Conselho da Comunidade Negra de Rio Claro (Conerc), Divanilde de Paula, lamenta a remoção da figueira. Ela conta que a comunidade somente ficou sabendo da remoção após o fato consumado. Foi o mesmo que aconteceu com a figueira da Praça da Boa Morte. Porém, no caso de São Benedito, ela esperava algo diferente, porque a comunidade negra vinha acompanhando todo o processo, inclusive tomando medidas para o reaproveitamento da madeira.

Dona Diva comenta que a figueira era sagrada e representava um elo com a história da comunidade. Por isso, a remoção foi vista como uma atitude de descaso para com a população negra. “Não se importaram com a importância da figueira para a nossa história”, lamenta. Para ela, faltou sensibilidade. O conselho tentou apurar os motivos da retirada da árvore e a resposta obtida foi que havia risco de queda.

Muito triste, dona Diva informou que o objetivo do Conerc era desenvolver algum tipo de projeto no espaço onde ficava a figueira, local considerado sagrado pelos negros e que abrigou várias manifestações culturais, encontros, festejos e comemorações de irmandades, e tem papel importante na história da comunidade negra na cidade.

Ivan Bonifácio coordena o trabalho para o tratamento e o uso da madeira da figueira. Segundo ele, várias reuniões foram realizadas para discutir a destinação do material. Bonifácio, que trabalha com a produção de tambores e grandes peças de madeira, discutia com a comunidade um projeto para reaproveitar a madeira. Ele, inclusive, iniciou a construção de um banco com pedaços do tronco da figueira.

Para ele, a remoção dos restos da figueira demonstra que falta muito para que se conheçam os reais anseios da comunidade. A retirada foi feita por pessoas que estavam acompanhando o processo em curso e por isso fica difícil entender a decisão. Bonifácio lembra que a figueira era morada do Orixá Iroko, sendo uma das árvores sagradas para as religiões de matriz africana.

Questionada sobre a destinação da madeira da figueira, a prefeitura informou que partes dos troncos ficaram sob a guarda da Secretaria de Cultura e alguns pedaços foram entregues a entidades culturais e de cultos de origem africana. De acordo com a administração municipal, restam ainda algumas partes disponíveis que poderão ser doadas a outras entidades, mediante pedido feito na própria secretaria e cujo deferimento ficará por conta do Conselho Municipal da Comunidade Negra.

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