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ANGELA PINHO – SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A pouco menos de um mês do início do ano letivo, professores da rede pública de São Paulo ameaçam entrar em greve para evitar o retorno presencial às escolas.

No sindicato dos docentes da rede estadual, a Apeoesp, a posição é de não retorno até que a categoria seja vacinada contra a Covid-19. Já o Sinpeem, que representa os professores do município, condiciona a volta ou à vacina ou à comprovação da segurança de cada unidade escolar.

A gestão do governador João Doria (PSDB) já definiu que a volta às aulas será no dia 4 de fevereiro e terá obrigatoriamente carga horária presencial, com rodízio de alunos.

Já a administração do prefeito Bruno Covas (PSDB) ainda não definiu se o retorno será presencial ou a distância.

Só na cidade de São Paulo, quase 99% das escolas municipais e 48% das estaduais, que atendem 1,5 milhão de crianças, estão fechadas desde o fim de março.

O fechamento prolongado tem colocado o Brasil na contramão do que ocorre em países da Europa e da Ásia e em estados dos EUA, que reabriram os colégios em algum momento após o início da pandemia.

Nesta semana, o Reino Unido voltou atrás e ordenou o fechamento da maior parte das unidades escolares do país devido à circulação de uma nova e mais transmissível cepa do vírus.

Para garantir o retorno na rede estadual paulista, a Secretaria da Educação decidiu abrir concursos para professores temporários atuarem na sala de aula, já que os profissionais efetivos que apresentarem atestado médico permanecerão em casa.

Na terça-feira (5), a Apeoesp anunciou ação judicial contra a seleção e promete greve caso seja mantida a decisão do retorno presencial no dia 4.
A presidente do sindicato, deputada estadual Professora Bebel (PT), diz que só aceita a volta após a vacinação contra o novo coronavírus, e de forma gradual.

“É volta gradativa depois da vacina, porque não se sabe ainda tudo da vacina, temos que esperar para ver a eficácia”, diz. Ela reconhece as dificuldades decorrentes do ensino a distância, mas afirma que, neste momento, é preciso priorizar a saúde. “É a vida acima de tudo, depois a gente vê o resto”, afirma.

Bebel critica também a não prioridade aos professores na imunização. “Nos colocaram na posição de essenciais, mas não querem nos priorizar na vacina.”

Secretário estadual da Educação, Rossieli Soares diz que o governo recorrerá à Justiça em caso de greve.

Ele afirma que o retorno presencial é inadiável devido às lacunas de aprendizagem e à profusão de casos de depressão e ansiedade entre os alunos.

“Crianças em fase de alfabetização não consolidaram conhecimentos do ano anterior e estão retrocedendo. Isso sem falar na aprendizagem de novos conteúdos em todas as faixas etárias, a despeito do enorme esforço que as escolas têm feito para manter o ensino a distância”, diz.

Segundo Soares, a rede está dotada de equipamentos de proteção individual e materiais de higiene, e 4.600 escolas reformaram seus banheiros com verba encaminhada no ano passado.

Presidente do Sinpeem, que representa os professores da rede municipal, Claudio Fonseca condiciona a volta presencial à apresentação de informações detalhadas sobre as condições sanitárias de cada unidade escolar.

Ele defende ainda que a reabertura não ocorra até o final da primeira etapa de vacinação, que iria até o meio de fevereiro.

Se não forem cumpridas essas condições, ele não diz que a categoria pode entrar em greve, mas coloca essa alternativa com cautela.

“Eu tomo cuidado ao falar disso, porque não quero fazer nada que transpareça para a população que professor é contra a educação básica presencial. Não tem ninguém que defenda mais a educação básica presencial do que o professor. Agora, se expuserem os alunos, as famílias e os profissionais de educação, não temos como voltar.”

Procurada, a prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Educação, declarou que que a autorização para retorno presencial depende da área da saúde do município.

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