Investigação da Polícia Federal sobre os repasses da Odebrecht a políticos do MDB aponta que o publicitário Paulo Luciano Tenuto Rossi, irmão do deputado federal e líder do MDB na Câmara dos Deputados, Baleia Rossi, recebeu R$ 1 milhão em espécie em dois hotéis de São Paulo em 2014. Segundo a PF, os pagamentos compõem o caixa dois de R$ 5,1 milhões pagos pela empreiteira à campanha de Paulo Skaf ao governo paulista naquele ano – Skaf concorre novamente ao governo em 2018 e sua campanha nega que ele recebido recursos irregulares.

A PF localizou, em uma série de mensagens trocadas via Skype pelos funcionários da transportadora de valores usada pela Odebrecht, dois supostos pagamentos de R$ 500 mil endereçados a Tenuto Rossi em setembro de 2014. O primeiro teria ocorrido no dia 5, no Hotel Palace Flat Moema, e o segundo no dia 9, no Hotel Merak. Os valores, as senhas usadas nas entregas e as datas coincidem com os dados sobre o caixa dois à campanha de Skaf nas planilhas da Odebrecht.

Os registros de conversas via Skype foram entregues espontaneamente à Polícia Federal por Edgarg Augusto Venâncio, ex-gerente da Transnacional e responsável por programar as entregas de dinheiro da Odebrecht em hotéis e residências em São Paulo.

Policiais federais foram até os dois hotéis apontados nas mensagens e solicitaram a relação de hóspedes no período do suposto pagamento. As listas apresentadas pelos estabelecimentos revelaram que o irmão de Baleia Rossi e filho do ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi ficou hospedado em ambos na mesma data das supostas entregas de R$ 500 mil da empreiteira. Os outros R$ 4,1 milhões de caixa 2 a Skaf, segundo a PF, foram pagos ao publicitário Duda Mendonça, responsável pelo marketing daquela campanha.

Conhecido como Palu, Tenuto Rossi é sócio da empresa Ilha Produção Ltda., que foi contratada por R$ 3,2 milhões pela campanha de Skaf para a produção de programas de rádio e televisão. Em depoimento à PF, em junho deste ano, Duda Mendonça afirmou que foi o presidente licenciado da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) quem insistiu para que ele contratasse a empresa do irmão do deputado e disse que os gastos seriam pagos pela Odebrecht.

Jantar

Segundo as declarações de Marcelo Odebrecht, um jantar ocorrido no Palácio do Jaburu, residência do vice-presidente, serviu para confirmar que, dos R$ 10 milhões que a empresa havia se comprometido a pagar ao MDB na eleição de 2014, R$ 6 milhões seriam revertidos à campanha de Skaf, com o codinome ‘Tabule’. Os outros R$ 4 milhões, segundo a PF, foram pagos ao presidente Michel Temer, ao ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e ao ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, preso pela Lava Jato.

De acordo com a PF, os valores foram omitidos na prestação de contas à Justiça Eleitoral, o que enquadraria Skaf no crime de “caixa 2”, previsto no artigo 350 do Código Eleitoral. A conclusão consta em relatório final do inquérito sobre suposto repasse de R$ 10 milhões da Odebrecht para integrantes do MDB.

O documento, que foi encaminhado ao STF no início do mês, indica a prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo presidente Michel Temer e os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e das Minas e Energia, Moreira Franco. Temer, Padilha e Moreira Franco negam as acusações.

Defesas

O publicitário Paulo Luciano Tenuto Rossi afirmou, em nota, que desconhece o teor da investigação e que só tomou conhecimento de menção ao seu nome através da divulgação do relatório da PF pela imprensa. “A produtora foi contratada diretamente pela coordenação da campanha e não pelo publicitário Duda Mendonça. Todos os pagamentos recebidos pela produtora referentes aos serviços prestados por ela na campanha eleitoral no ano de 2014 foram pagos pela conta da campanha e foram devidamente declarados aos órgãos competentes”, afirmou.

Já o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) afirmou que “não é e nem foi investigado e que “além disso, sequer sofreu acusação ou suspeita de irregularidade”.

A assessoria da campanha de Paulo Skaf (MDB) afirmou, em nota, que “em 2014 não recebeu nenhum recurso irregular” e que “todas as doações recebidas pela campanha estão registradas na Justiça Eleitoral.” Segundo a nota, Skaf “nunca pediu e nem autorizou ninguém a pedir qualquer contribuição de campanha que não as regularmente declaradas.”

A Odebrecht diz, em nota, que já assinou acordo de leniência com o Ministério Público Federal e afirma que continua colaborando com as autoridades. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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