O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou recentemente uma pesquisa na qual mostra que os jovens negros e pardos são maioria nas universidades públicas, representando 50,3% do total de alunos. A tendência nas universidades particulares é de que esse percentual aumente, mas ainda não ultrapassa os 50%.

A população negra representa 55% da população brasileira e, mesmo se fazendo cada vez mais presente dentro das universidades públicas, é preciso analisar a situação. É o que explica Josiane Cristina Martins da Silva, assessora dos Direitos Raciais da prefeitura municipal de Rio Claro. “Com a conquista do direito às cotas raciais pelo Movimento Negro, cada vez mais pudemos e poderemos contar com a presença de negros(as) no espaço das universidades públicas, porém, se faz necessário um questionamento junto àqueles que hoje ocupam estes espaços para saber se a pesquisa reflete a realidade visual. Digo isso porque sabemos que muitas fraudes já aconteceram onde as vagas estavam sendo ocupadas por pessoas que não são negras.”

Diferenças

Ainda de acordo com o IBGE, apenas 30% dos cargos de comando no país são ocupados por negros, mas, para Josiane, com o número maior de jovens nas universidades, essa realidade pode ser mudada. “Mas termos negros e negras nas universidades nos dará o direito a ter também representantes nas mais diversas profissões e o acesso a um universo que nos é restrito”, fala. E segue. “Cabe mencionar que a Lei de Cotas tem como regra de permanência atingir a equidade e esses dados podem contribuir de maneira negativa levando a uma extinção antes de atingir o propósito.”

Na região, a assessora de Direitos Raciais comenta que existe bastante acesso às cotas raciais, mas que a necessidade de se atentar ao processo de seleção também se faz presente. “Precisamos estar atentos e acompanhar o processo de seleção. Temos nossos direitos e eles precisam ser respeitados”, aponta. A pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostrou também que a renda, em média, de um trabalhador negro equivale a 57% do salário de um trabalhador branco.

Ocupando espaços

A jovem rio-clarense Adnã Alves integra a estatística dos que conseguiram derrubar barreiras para chegar ao ensino público superior. Graduada em dança pela Unicamp, Adnã agora prossegue seus estudos na universidade cursando o Mestrado em Artes da Cena e fala sobre o direito dos negros. “É oportunidade, né? Da gente poder falar quem a gente é, o que a gente estuda, o que a gente faz, é saber, é conhecimento, é vida. E aí, pensando na ocupação desses corpos pretos nos ambientes acadêmicos, é pensar na oportunidade, no espaço para legitimar essas narrativas, dar espaço para essas narrativas, entender que esse espaço é nosso, eu ocupando hoje, eu sou fruto da luta, do suor da minha mãe, da minha avó, de todos os meus antepassados, ter representação e representatividade”.

A sua assinatura é fundamental para continuarmos a oferecer informação de qualidade e credibilidade. Apoie o jornalismo do Jornal Cidade. Clique aqui.