O Brasil tem hoje 2 milhões de professores trabalhando em escolas e 380 mil dando aulas no ensino superior. Para o especialista em ciência política do Mackenzie Rodrigo Prando, pode haver uma tentativa dos candidatos de conseguir o voto desse grupo numeroso, que frequentemente reclama melhores condições de trabalho. O piso salarial do docente de ensino básico público no País é de R$ 2.455 e há muitos Estados que sequer cumprem esse valor. Em recente avaliação internacional, só 2,4% dos jovens de 15 anos declararam querer ser professores no Brasil.

Prando também acredita que o título de docente agrega valor para a maioria da população por causa da memória afetiva. “Vem a lembrança de seus próprios professores e de uma categoria que se dedica a ensinar e a cuidar.”

A situação da educação brasileira – em que boa parte dos alunos está em níveis insuficientes de aprendizagem – também pode atrair votos para um candidato que pareça preocupado com a área. “O pai e a mãe imaginam que ele poderá lutar por melhorias da escola do seu filho”, diz a professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Dirce Zan. “Mas usar o adjetivo de professor não legitima o candidato necessariamente como compromissado com a educação. Alguns podem estar usando o nome para angariar votos.”

São Paulo

Os professores representam 4,5% de todos os concorrentes para todos os cargos nas eleições deste ano. A maioria disputa vagas de deputados estaduais e federais. O Estado de São Paulo é o que tem a maior índice de representantes do grupo (14,5%) e, inclusive, com uma candidata a governadora, a educadora Lisete Arelaro (PSOL). Ela usou pela primeira vez o “professora” na frente do nome nessas eleições porque acha seu sobrenome difícil de pronunciar.

“Apesar da profissão não ser reconhecida, nos dá muito prazer e orgulho. Estou contando com um voto a mais, do eleitor que esteja em dúvida e pense: vou votar naquela professora”, brinca. A ex-diretora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) tem 2% das intenções de voto na mais recente pesquisa Ibope.

Entre os partidos que mais têm candidatos identificados como professores estão o PSOL, o PT, o PCdoB e a Rede. “Quando falo que sou professora, o olhar do eleitor é outro, diferente do que ele dá para um pastor, um advogado. É um olhar de dó, mas também de confiabilidade”, conta a candidata a deputada federal pela Rede Jacqueline Moreira dos Santos de Almeida, de 46 anos, a Professora Jacqueline. Ela dá aulas de matemática na rede pública há 22 anos. Caso seja eleita, diz que vai tentar acabar com a “aprovação automática”, política que permite reprovação apenas em algumas séries e é defendida por muitos educadores para não desestimular a criança. “Eu sei realmente o que acontece dentro da escola e por quê não dá certo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A sua assinatura é fundamental para continuarmos a oferecer informação de qualidade e credibilidade. Apoie o jornalismo do Jornal Cidade. Clique aqui.