As profissionais Andressa Scaglia e Marta Bianchi no estúdio da Rádio Excelsior Jovem Pan

Ednéia Silva

A rede de atenção psicossocial de Rio Claro está preocupada com o aumento da medicalização na infância. Nos últimos quatro anos o número de prescrições médicas de remédios para o público infantil cresceu 940% em todo o mundo. Tal fato preocupa os profissionais de saúde.

O assunto foi discutido no programa Jornal da Manhã da Rádio Excelsior Jovem Pan News dessa quarta-feira (26) por Andressa Scaglia, coordenadora do Caps Infantil, e Marta Bianchi, do Núcleo de Educação em Saúde. De acordo com Andressa, a medicalização infantil é um tema de pauta mundial, porque estamos vivendo uma época de patologização da infância. Comportamentos e situações que antes eram vistos como atos de indisciplina, hoje são considerados doenças.

As profissionais Andressa Scaglia e Marta Bianchi no estúdio da Rádio Excelsior Jovem Pan
As profissionais Andressa Scaglia e Marta Bianchi no estúdio da Rádio Excelsior Jovem Pan

A coordenadora alerta que a medicação nunca deve ser a primeira alternativa para o tratamento da criança. Andressa afirma que os medicamentos são importantes, mas não devem ser a única opção de tratamento e muito menos vir desacompanhados de outras medidas que incluem família, escola, amigos etc.

A profissional chama atenção para o fato de que muitas vezes criamos um ideal de criança, ou seja, como ela deve ser, e procuramos enquadrá-la nesse perfil sem questionar esse tipo de atitude. Essa prática pode atrapalhar a identificação do problema. Como exemplo, ela cita o caso de crianças vítimas de violência. Muitas vezes elas não conseguem ‘significar’ o abuso e passam a ter comportamentos desadaptados que, mal interpretados, podem ser patologizados e tratados com medicação. “Antes de medicar é preciso buscar as causas do problema”, destaca.

Marta Bianchi comenta que o crescimento da medicalização é geral e não acomete apenas as crianças. Adultos também usam remédios em excesso. Ela conta que na farmácia do SUS (Sistema Único de Saúde) da Avenida 29 são dispensados 860 mil comprimidos de psicotrópicos por mês. Tem-se que pensar como está o uso e o controle desses medicamentos, o acompanhamento, porque às vezes cai somente na medicação sem considerar outras alternativas de tratamento.

Para ela, existe uma cultura do remédio. As pessoas acreditam que a saúde somente é adquirida quando se toma o comprimido, quando na verdade todos os aspectos da vida são importantes para a manutenção da saúde.

Andressa comenta que Rio Claro possui uma rede de atendimento psicossocial com vários serviços. O Caps III funciona 24 horas e atende as urgências psiquiátricas. O Caps AD atende até as 16 horas as pessoas com dependência de álcool e outras drogas. O Caps Infantil atende crianças e adolescentes. A rede ainda tem dois ambulatórios: o Criari que atende casos mais leves, e o Cesm, ambulatório de saúde mental.

O áudio completo com a entrevista pode ser conferido no player abaixo. Clique para ouvir!

ENCONTRO

A medicalização e a patologização da infância serão discutidas no “1º Encontro sobre Medicalização na Infância e Adolescência”, que acontece nesta quinta-feira (27), das 18 às 22 horas, na sala de cinema do Centro Cultural “Roberto Palmari”. O evento, organizado por psicólogos da Fundação Municipal de Saúde, marca o Dia Nacional do Psicólogo, comemorado nesta quinta-feira (27).

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