“Tristeza. É esse o sentimento que eu sinto. É uma dor muito profunda, digo que é impossível de ser explicada. Sinto que uma parte do meu corpo foi mutilada.” O desabafo é de Rosa do Carmo Bortoloti de Freitas, de 64 anos, numa entrevista exclusiva ao JC para a ‘Reportagem da Semana’ deste domingo (31).

A aposentada abriu o coração e contou como tem tocado a vida após o acidente de trânsito que matou a filha Luciana Bortoloti de Freitas, em 1999, há 22 anos, na Rodovia Anhanguera, em Sumaré. Ela e a amiga, que também não sobreviveu, voltavam da capital paulista para Rio Claro quando o carro em que elas estavam atravessou a pista e bateu de frente com uma camionete.

Dona Rosa se mudou da ‘Cidade Azul’ para o município de Praia Grande, litoral de São Paulo, há alguns anos, depois de perder a filha, a mãe, o pai, a irmã e alguns amigos. Ela decidiu respirar novos ares na praia, lugar que, segundo ela, sempre se identificou e agora busca novas amizades.

Questionada sobre como está se reerguendo, a aposentada explicou: “Não costumo usar a palavra reconstruir, porque para sempre faltará esse pedaço no meu coração. A saudade dói, dói muito. Há dias que o sentimento da perda vem forte e choro, oro a Deus para que acalme meu coração. Costumo sempre falar com Ele sobre ela e lembrar dos momentos felizes que vivemos, principalmente os abraços carinhosos e os beijos que só minha filha sabia dar”, relembrou.

A mãe ainda disse que a filha venceu na vida e que não poupou esforços para alcançar o sucesso profissional. “Mesmo na capital ou em viagens para outros estados, ela sempre me telefonava para diminuir a saudade. Tenho certeza que está ao lado de Deus Pai Todo Poderoso.”

Ela contou ao JC que a fé a ajudou no processo, além do apoio da família e dos amigos, mais precisamente do filho Leandro Freitas, de 39 anos. Na época do ocorrido, ele tinha 17 anos. “O amor pelo meu filho é o que me mantém em pé. Por outro lado, acredito que a morte de um filho nunca será superada. Não há nada pior. Nenhuma mãe nasceu para enterrar um filho”, afirmou.

O acidente

Era 26 de setembro de 1999 quando duas bailarinas da dupla Zezé di Camargo e Luciano e outras duas pessoas morreram em um acidente automobilístico na Rodovia Anhanguera, em Sumaré.

O carro em que viajavam as bailarinas Greicy Cristina Dias Rodrigues, na época com 20 anos, natural de Bragança Paulista, e Luciana Bortoloti de Freitas, de 20 anos, de Rio Claro, trafegava na pista da capital-interior.

De acordo com a Polícia Rodoviária, o veículo saiu da pista pelo canteiro central e invadiu a pista sentido interior-capital. O carro bateu de frente com uma camionete onde viajavam João dos Reis Gimenes, de 38 anos, e Rogério Selestino, de  23, ambos de Ribeirão Preto. 

As bailarinas trabalhavam com a dupla sertaneja havia dois anos. Elas voltavam de um show feito em Porto Alegre (RS). Na época, a assessoria de imprensa da dupla sertaneja confirmou que elas desembarcaram em São Paulo e iam para Rio Claro, onde morava a família de Luciana.

Morte abalou músicos consagrados

A trajetória de Luciana também conta com trabalhos desenvolvidos com a dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó e o Grupo Katinguelê, entre outros.

Na época, ao ser informado da tragédia, Salgadinho, líder do grupo naquele ano, estava em turnê na Bahia, mas mandou uma mensagem por meio da coreógrafa Lígia de Castro à família, enaltecendo o profissionalismo da rio-clarense.

“Era a nossa dançarina preferida. Luciana fez muitos amigos na nossa banda por causa de sua postura profissional. Trata-se de uma pessoa segura, que se empenhava para alcançar seus objetivos e vencer seus obstáculos. Deixou sua família em Rio Claro para buscar o sucesso na capital. O Katinguelê ficou mais triste sem a sua presença. Aguardávamos sua volta ainda neste ano [1999]. Infelizmente o destino mudou a trajetória da sua vida”, assinalou Salgadinho. 

O trecho acima foi retirado das páginas do JC quando o jornal fez a cobertura do sepultamento da jovem. Na época, o caso ganhou grande repercussão na região.

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