A infertilidade é um problema que afeta muitos brasileiros. Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que 15% da população sofre com o problema no país, e um em cada cinco casais necessita de ajuda especializada para conceber.

Daí vem a importância de disseminar informações sobre um problema que envolve uma parte tão importante do ser humano: a procriação, a geração de descendentes. Por isso, junho foi designado como o Mês Mundial de Conscientização da Infertilidade, tema da ‘Reportagem da Semana’ deste domingo (27).

Pesquisas demonstram que as causas da infertilidade estão distribuídas igualmente entre homens e mulheres (por volta de 35% cada), além de um percentual referente à infertilidade sem causa aparente.

Especialistas dizem que o problema não deve ser motivo para desistir do sonho de ter um filho. A prova disso é o casal rio-clarense que vamos conhecer: Cassilia Varotti Brumati Alves, de 43 anos, e Heitor Alves, de 44. Eles estampam a capa do JC nesta edição para falarem sobre a solidão, o medo e a jornada que enfrentaram no tratamento de reprodução assistida.

A dupla contou à reportagem do Jornal Cidade que demorou para buscar ajuda. Ela, diretora de uma das empresas mais conceituadas do ramo da construção na cidade, e ele advogado, tentaram sozinhos por anos. Até que, em 2012, resolveram procurar um especialista.

“Não temos até hoje um diagnóstico fechado da nossa infertilidade. Acredito que temos muitos fatores de risco envolvidos que dificultaram a nossa gravidez: idade avançada, sobrepeso, meu marido é tabagista, várias coisas”, explicou ela.

Ainda em 2012, o casal começou a jornada de inseminação, mas o resultado positivo não chegou. Com isso, passaram às fertilizações. Dois anos depois, em 2014, o primeiro positivo. Vieram ao mundo Miguel e Maria, que não sobreviveram ao nascimento prematuro. “Vivemos a dor da perda neonatal e um período de luto”, comentou Cassília.

Em 2015, lá foram eles novamente em busca de tratamento. Depois de vários negativos, chegou ela, Mariana, hoje com cinco anos, para acalentar o coração dos pais. A felicidade foi imensa, mas ainda faltava algo para o casal. “Família completa? Imagina, claro que não. O sonho de um segundo filho nos acompanhava”, declarou a mãe.

Em 2017, Cassília e Heitor começaram tudo de novo, com um quadro clínico mais complexo: com a idade mais avançada e um histórico de aborto. Mesmo com todos os riscos, que conspiravam para mais uma série de resultados negativos, dois anos depois, chegou Marília, para completar a família. A menina, atualmente, tem dois anos.

“Foi um processo longo com algumas perdas, mas a recompensa final de termos as meninas em casa valeu toda essa espera. É preciso ter muita fé e perseverança, pois ao final de tudo, o que se conquista, que é a família, é algo que faz a vida valer a pena”, comentou Heitor.

A infertilidade e a solidão

Antes do final feliz do casal, porém, é preciso lembrar que a infertilidade é um processo de solidão, como Cassília fez questão de destacar. “Quando somos adolescentes, temos um grupo de apoio vivendo as mesmas emoções. Quando entramos na faculdade, quando casamos e até quando nos tornamos mães, temos uma rede. O que seria de nós sem esses amigos? O problema é que quando somos tentantes, não temos ninguém. Passamos por tudo isso sozinhas”, disse Cassília.

A diretora também afirmou que o ramo da medicina vem se popularizando há pouco tempo, então havia esse tabu que a medicina reprodutiva era para poucos casais. “Muitos casais acreditam que esse problema só está acontecendo com eles. Olham a sua volta e só vêem casais grávidos e felizes. Mas isso também não é verdade. A infertilidade acontece com muita gente.  Acho que é isso que devemos gritar. E essa sensação de ‘só comigo’ faz com que muitos casais demorem para procurar ajuda”.

Cassília deixou um recado para outros casais que estão passando pela mesma situação que eles passaram, dizendo que não é normal não engravidar. “Não é! Muitas vezes, quando isso acontece, buscamos a ajuda de nosso ginecologista. Mas ele, como tem a agenda cheia e pouco tempo, não consegue ouvir todas as suas dúvidas e questionamentos. Procure um especialista. Vá investigar as suas causas. O especialista em reprodução não morde, não precisa ficar com medo dele. A maioria dos tratamentos realmente é cara, mas no nosso caso, conseguimos fazer um planejamento financeiro junto com o médico”, relatou.

Medicina reprodutiva

O médico que acompanhou o casal, Davi Buttros, especialista em Reprodução Humana, explicou que muitas pessoas olham a infertilidade ainda como um problema pessoal, que traz um sentimento de culpa para muitas pessoas, gerando muitos transtornos. Contudo, a infertilidade é um agravo à saúde.

“O médico tem que buscar qual o problema e o que deve ser feito para ajudar o casal a alcançar a gravidez. É assim que a sociedade deve enxergar, para que não faça julgamentos, ou dê opiniões que podem atrapalhar o lado psicológico de quem já sofre muito com  a dificuldade de conseguir ter o filho”. 

Davi Buttros também comentou sobre o avanço da medicina reprodutiva. “A fertilização in vitro tem inúmeras variações. Todo mundo acha que é o mesmo tratamento para todos, mas não é assim. Existe a tão importante individualização para cada tipo de caso. Cada mulher terá um cenário diferente, além de tudo, nós temos que saber lidar com as dores, com o luto dos casais que sofrem com a falta de um filho. Sem dúvida, é um tratamento em que existe muita humanização, acolhimento e cuidado para que nós possamos trazer não só soluções técnicas, mas esperança para quem tanto precisa de ajuda para completar sua família”, esclareceu.

SUS também oferece tratamento

Desde 2005, o Brasil conta com a Política Nacional de Atenção Integral em Reprodução Humana Assistida, no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde). Gratuitamente, o governo disponibiliza tratamentos de reprodução assistida, tais como a fertilização in vitro, inseminação intrauterina, indução da ovulação, coito programado e injeção intracitoplasmática de espermatozóide, entre outros.

O processo para conseguir uma vaga, no entanto, pode levar anos, pois pode ser necessária mais de uma tentativa e existem poucos hospitais na rede pública capacitados para oferecer o serviço. 

Para buscar o atendimento, o paciente deverá ir a um posto de saúde para, então, ser encaminhado a um centro de tratamento da infertilidade.  Apesar do tratamento ser gratuito, alguns medicamentos de alto custo podem não ser fornecidos pelo SUS.

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