Fabíola Cunha

O veganismo ganha adeptos à medida que é exposta a crueldade na indústria de alimentos, vestuário e farmacêutica, etc.
O veganismo ganha adeptos à medida que é exposta a crueldade na indústria de alimentos, vestuário e farmacêutica, etc.

Uma das palestras que serão ministradas nesta semana na Unesp, em Rio Claro, dentro do Evento de Direitos Animais fala diretamente ao meio acadêmico: o uso de animais na pesquisa científica.

O organizador do evento, professor Luiz Augusto Normanha Lima, é enfático: “Nas sábias palavras de Albert Sabin, ‘Minhas pesquisas baseadas no modelo animal acabaram atrasando em dez anos a descoberta das vacinas’. Já está bastante estudado, divulgado em livros e, também, muito divulgado na internet que as pesquisas com animais, além de serem um equívoco metodológico, são totalmente desnecessárias e altamente perigosas para o desenvolvimento da Ciência aplicada a humanos”, explica.

Para ele, o evento, que chega a sua nona edição, é importante justamente por levar a discussão sobre o assunto para dentro da academia, onde ainda é considerado “tabu”. Normanha diz que há pelo menos dois grupos de pesquisadores favoráveis ao uso de animais: aqueles que não usam animais, mas acham que a ação é correta; e aqueles que os usam em pesquisas que são seu “ganha-pão”.

O professor entende que, na ânsia de possuir controle total sobre sua pesquisa, sem questionamento e seguro de que é o único a conhecer seu estudo, muitos cientistas acabam não procurando métodos alternativos ou substitutivos: “Toda pesquisa possui várias formas de ser executada. De qual ética o pesquisador que trabalha com o sofrimento animal pode falar, uma vez que não quer discutir o direito do animal e diante das suas ações para com esses seres?”, questiona.

Outro tema que ganha atenção e esclarecimento é o veganismo, que tem viés “abolicionista”, promovendo a libertação de todos os animais, seja os usados para alimentação como os para vestuário (lã de carneiros), calçados (couro), decoração (tapetes, artesanato), além, é claro, de banir cosméticos e remédios testados em animais: “Os veganos exercem uma pressão forte e direta sobre o mercado ao deixarem de consumir produtos testados em animais, porque essa atitude funciona como uma propaganda contrária ao negócio, afetando diretamente seu marketing”, pontua Normanha.

Além desses assuntos, que ainda suscitam acaloradas cisões entre o público, o evento traz realidade e perspectivas quanto aos aspectos jurídicos: o promotor Laerte Fernando Levai e a advogada Vânia Rall falam sobre as ações destinadas à proteção animal.

A falta ou deficiência de políticas públicas para eliminar o abandono de animais nas ruas é outra preocupação e a solução, para Normanha, é simples: “Investimento é a chave. O papel que as ONGs e associações de proteção desempenham é, na realidade, responsabilidade da prefeitura e do Estado. Todo o trabalho de prestação de socorro a inúmeros animais abandonados e necessitados, encaminhamento a veterinários, arrecadação de um mínimo de dinheiro através de organização de bazares,vendas de pratos, rifas, tudo isso quem faz são as ONGs e associações”, analisa.

Programe-se

As inscrições são gratuitas e podem ser feitas a cada dia, durante o evento. As atividades começam às 19h dos dias 2, 3 e 4 no Anfiteatro do Instituto de Biociências, Avenida 24-A, 1.515, Bela Vista. Normanha lembra que o evento acontece dentro da universidade com autorização do Comitê de Greve dos Docentes: “Já estava programado desde o começo do ano e trata de assunto indispensável”, diz.

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