ARTUR RODRIGUES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) –

Criados para aliviar a rede municipal no pico da pandemia, os hospitais de campanha da gestão Bruno Covas (PSDB) operam hoje com cerca de 20% de sua capacidade. As duas estruturas criadas pela prefeitura podem receber mais de 1.071 doentes, mas tinham 243 na quarta (24).
Com 22 internados e espaço para 200, o hospital de campanha do Pacaembu deve ser fechado na próxima semana. A prefeitura não confirma a informação. O complexo do Anhembi, porém, deve continuar ativo por mais tempo para estar à disposição de possível aumento dos casos.
As unidades funcionam desde abril e atenderam a 4.698 pacientes, dos quais 3.771 acabaram recebendo alta.
De acordo com levantamento feito pela reportagem, os dois hospitais tiveram picos de pacientes no dia 15 de maio, quando 760 pessoas estavam internadas em ambos os hospitais. Mesmo neste período, as duas instalações emergenciais não chegaram a lotar, ficando com lotação por volta de 70% dos leitos ativos.
Na comparação entre maio e junho, a média de pacientes internados caiu 41% –de 656 para 383. A gestão Covas avalia que as unidades foram importantes elementos na estabilização da doença na cidade. Não só ajudaram a aliviar a rede hospitalar abrigando casos mais leves como serviram para isolar pacientes que, se ficassem em casa, continuariam contaminando a população.
Há também preocupação com uma possível segunda onda de contaminações, após a reabertura total dos setores econômicos. A prefeitura espera que bares e restaurantes possam reabrir a partir de segunda-feira (29), por exemplo.
As unidades municipais são administradas por três entidades diferentes. O Pacaembu é gerenciado pelo Hospital Israelita Albert Einstein. A reportagem apurou que, ali, os profissionais já foram até avisados do fechamento da unidade.
Já o Anhembi tem vagas geridas por duas entidades, a Iabas e a SPDM –na unidade, médicos reclamaram da estrutura e de falta de materiais, o que as operadoras negam. O complexo foi montado para receber até 1.800 pacientes. Mas hoje há 871 leitos, dos quais 221 estão ocupados.
As internações vêm caindo em São Paulo, o que fez com que a cidade deva avançar à fase 3 da flexibilização do governo João Doria (PSDB), com a permissão do funcionamentos de bares e restaurantes.
Para o médico Márcio Sommer Bittencourt, do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da USP, a diminuição da ocupação dos hospitais de campanha ocorreu paralelamente ao incremento de vagas em hospitais regulares. “O que os hospitais de campanha fizeram foi atender uma época em que a estrutura regular estava menos preparada.”
Ele afirma que as estruturas foram criadas num momento em que pouco se sabia das dimensões que doença teria no país e que elas absorveram demanda que impediu o sistema de ficar mais pressionado.
“Sem ter certeza, a melhor estratégia é ter mais leitos, um pouco de leito ocioso, do que passar pela situação que muita gente no mundo passou.”
Na opinião dele, porém, continuar mantendo hospitais com grande capacidade ociosa tem um custo muito alto, no caso de se estar esperando uma nova alta de casos.
A queda na ocupação dos hospitais de campanha de Covas coincide com a criação da duas unidades de campanha estaduais, no Ibirapuera e em Heliópolis, em maio. Ambos estão com índice maior de ocupação que os municipais, entre 50% e 70%, diz o governo.
O hospital de Heliópolis tem 116 pacientes e 200 leitos (58% de ocupação). Com 268 vagas, a unidade do Ibirapuera tem 133 internados (50% das vagas). Segundo o governo Doria, os locais “continuam em funcionamento e estão mantidos até que seja constatada diminuição nas internações”.
Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp e consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), diz que as estruturas de hospitais de campanha ociosas na capital poderiam atender a população do interior.
Enquanto a capital tem queda na média de internações, a doença avança pelo interior paulista. Stucchi citou que por volta de 40% dos internados em Campinas não são da cidade, que caminha para ter seu sistema totalmente ocupado.
“Talvez pudesse haver um consórcio do governador com prefeitos das cidades do interior que não têm condições de arcar com internações para que sejam transferidos para São Paulo nas estruturas que já estão montadas”, diz.
Ela diz que a criação dos hospitais já se justificou, mas que deixá-los ociosos para eventual segunda onda da doença pode ter um custo muito alto.
Questionada sobre a subutilização dos leitos, a prefeitura afirmou que “enquanto a cidade de São Paulo estiver classificada em fase que permita o risco de retrocesso no grau de transmissibilidade da Covid-19, não pretende desativar os leitos destinados ao tratamento da doença na capital”.
A nota acrescenta que os dados são monitorados diariamente e que a decisão de manter os leitos é tomada com base em critérios técnicos.
A gestão Covas disse que os custos dos hospitais são variáveis, dependendo de leitos ocupados até medicamentos, equipe e insumos usados. “A pasta ainda esclarece que o pagamento às organizações sociais que administram o hospital só é realizado pelo leito operacional. Os recursos não utilizados serão devolvidos.”

A sua assinatura é fundamental para continuarmos a oferecer informação de qualidade e credibilidade. Apoie o jornalismo do Jornal Cidade. Clique aqui.