A ‘Reportagem da Semana’ deste domingo (3) faz um alerta: caso o índice de chuvas não seja suficiente e o consumo aumente nos próximos meses, Rio Claro poderá ficar sem água.

A escassez de chuvas, que não prejudica apenas a agricultura, tem também aumentado os focos de incêndios e afetado os rios. A situação foi confirmada ao JC nesta semana pelo superintendente do Daae (Departamento Autônomo de Água e Esgoto), Osmar da Silva Júnior.

O JC esteve nos últimos dias no Ribeirão Claro, responsável por 40% do fornecimento de água à cidade, e constatou, junto do monitoramento do Daae, que o atual volume de água corresponde à metade do que deveria ser registrado nesta época do ano – 25% do volume total.

Outra preocupação é com o Rio Corumbataí, também um dos principais rios que abastece o município, responsável por 60% do abastecimento da cidade e que também está com menos da metade da sua capacidade total – 45% do volume normal para o período.

Segundo o Daae, a quantidade de água tratada consumida diariamente em Rio Claro é de 70 milhões de litros. A ‘Reportagem da Semana’ fez uma conta simples, dividindo o consumo diário pelo número de habitantes de Rio Claro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que é de 210 mil habitantes –  o que nos dá o resultado de 300 litros por pessoa no dia.

Essa conta, muito simplificada, não leva em consideração os percentuais de perda. De acordo com a Trata Brasil, o país tem 38,45% de perda de água potável. Ou seja, para cada 100 litros de água captada, tratada e potável, 38 litros não chegam oficialmente a ninguém. A soma, que é uma estimativa, também não leva em consideração o consumo comercial, industrial, nem o hospitalar.

Para Júnior, o consumo do rio-clarense é alto. “Por isso é fundamental que a população se conscientize, colabore e faça o uso responsável da água, evitando desperdícios”, afirmou. Vale lembrar que a ONU (Organização das Nações Unidas) recomenda o uso de 110 litros de água por habitante por dia para atendimento das necessidades de consumo e higiene.

O JC questionou o Daae sobre outros dados do consumo de água pelos rio-clarenses, com o objetivo de comparar as informações e mostrar que o consumo inconsciente de água pode prejudicar o abastecimento. Contudo, a reportagem não obteve retorno até o fechamento desta edição.

Racionamento não é descartado 

Para minimizar os riscos ao abastecimento e incentivar a economia de água, o Daae tem adotado algumas ações, como a de redução de perdas d’água, multa para quem for pego lavando calçadas, passeios públicos, quintais, imóveis e veículos no valor de R$ 180,83, além de campanhas de conscientização.

Osmar da Silva Júnior se mostrou preocupado com os números: “Não existe garantia de que não terá um racionamento. O que nós garantimos hoje é uma operação adequada para distribuir água. Porém, com pouca chuva, não há recarga dos mananciais, nos lençóis freáticos e, consequentemente, a diminuição da vazão nos rios que pode chegar a níveis tão baixos que comprometa o abastecimento da cidade”, disse o superintendente.

Questionado, Júnior afirmou que o Daae está planejando e executando obras a curto, médio e longo prazos para combater a estiagem. Ele destacou as construções de uma barragem e de uma nova ETA (Estação de Tratamento de Água) – isso a longo prazo. Já a médio prazo, ele citou o projeto de extrair água de cava de mineração.

No local, que não pode ser divulgado por se tratar de uma propriedade particular, a autarquia pretende retirar água da cava de argila, que está desativada e que tem água suficiente para abastecer o município por um período de 30 dias. A projeção foi feita por técnicos ouvidos pelo JC.

A alternativa, no entanto, depende de vários processos: o da outorga, que está em andamento, e também os operacionais: implantação de tubulação, equipamentos para retirar a água e bombear, além do acompanhamento do processo – o que pode demorar alguns meses.

Para explicar ao leitor, o JC esteve junto do diretor de relações institucionais da Aspacer (Associação Paulista das Cerâmicas de Revestimento), Luís Fernando Quilici, numa outra área de mineração próxima ao distrito de Assistência, em Rio Claro.

“Já temos uma experiência bem sucedida em Cordeirópolis onde, desde 2014, isso tem contribuído com a cidade, no sentido de que elas sejam usadas como reservatório. E a ideia é se apropriar desse potencial que temos na região nesses momentos de crise e é também uma forma de dar destino a essas cavas, que já estão nas fases de esgotamento, que tenham como possibilidade de destinação final a utilização para esse fim”.

Chuvas abaixo da média e previsão preocupante

Desde o início do ano, a seca está presente na cidade e região. De acordo com o Ceapla (Centro de Análise e Planejamento Ambiental), em todos os meses deste ano choveu abaixo da média e a chuva registrada não compensou as perdas anteriores.

Conforme o órgão, dos últimos cinco anos, 2021 é o ano que menos choveu até agora, se comparado ao mesmo período do quinquênio anterior – até setembro, foram 663,8 milímetros de chuva. Em 2020, choveu 784 mm; em 2019, 1.038,7 mm; em 2018, 685,8 mm; em 2017, 987,3 mm; e em 2016, 1.053,9 mm.

A previsão não é nada animadora, conforme Carlo Burigo, técnico do Ceapla, se levada em consideração a previsão trimestral do CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos) para setembro, outubro e novembro. “A tendência é de que as chuvas para a região sudeste fiquem abaixo da média”, afirmou.

Para setembro, a média histórica de chuvas era de 56,1 milímetros. Contudo, segundo os dados do Ceapla, a média registrada foi de apenas 7,4 mm. Para outubro, são esperados 104,3 milímetros de chuvas e, para novembro, 162,3 milímetros. Contudo, ainda em 2020, a média registrada nesses meses já foi abaixo do esperado.

Dicas para economizar água

Reduza o tempo do banho, fechando o registro enquanto estiver se ensaboando; a mesma estratégia vale para quando for escovar os dentes e lavar louça;

Só ligue a máquina de lavar quando houver bom volume de roupas e armazene a água do ciclo completo;

Não lave quintais e calçadas, exceto por extrema necessidade e, se for o caso, use o balde e nunca mangueira. Utilize água reaproveitada da lavagem de roupas;

Não lave veículos.

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