Adriel Arvolea

A diretora do Sistema Único de Assistência Social, Sônia Maria Catel Gerner, e a secretária de Ação Social, Luci H. W. Ferreira
A diretora do Sistema Único de Assistência Social, Sônia Maria Catel Gerner, e a secretária de Ação Social, Luci H. W. Ferreira

Chama a atenção em Rio Claro o número de pessoas em situação de rua, que circulam, principalmente no Jardim Público, antiga estação ferroviária e imediações do Terminal Rodoviário. Há os que defendam a retirada das mesmas desses pontos. No entanto, a legislação garante o direito de ir e vir para todo cidadão. Desta forma, que políticas públicas contemplam essa parcela da população? A secretária Municipal de Ação Social, Luci Helena Wendel Ferreira, e a diretora do Sistema Único de Assistência Social (Suas), Sônia Maria Catel Gerner, trazem uma reflexão do assunto e desta realidade no município.

Jornal Cidade – Quais são as estratégias da Secretaria Municipal de Ação Social frente ao fenômeno da população de rua?
Luci Helena Wendel Ferreira – Nossas ações têm um viés grande no social. Seguimos a política nacional na busca ativa por essas pessoas, visando o diálogo, a aproximação, a confiança e o contato. Trabalhamos de forma intersetorial, ou seja, há a adesão de outras secretarias e órgãos públicos que contemplam o trabalho. Elas têm o direito de ir e vir, e a Ação Social não trabalha com um conceito Higienista de fazer uma ‘limpeza’ para retirá-las da rua.

JC – Como se dá a aproximação com essas pessoas?
Luci Helena Wendel Ferreira – Por meio do Cras (Centro de Referência da Assistência Social), primeiramente, busca-se conhecer o indivíduo, saber de suas necessidades e colaborar para que volte às suas famílias. No entanto, há quem queira continuar mesmo na rua, até por uma questão de adaptação e pelos vínculos que cria na rua .

JC – Quais as dificuldades do trabalho?
Luci Helena Wendel Ferreira -Nossas equipes de busca ativa estão todos os dias nas ruas, das 6h às 17h. Um trabalho que tem surtido efeito, mas que não dá para mostrar às pessoas, demonstrar isso, porque é um trabalho de diálogo diretamente com o indivíduo na rua.

JC – Em números, qual a população de rua em Rio Claro?
Luci Helena Wendel Ferreira – Nos nossos cadastros temos 20 moradores de rua e 80 em situação de risco. Estes por causa, na maioria, das drogas.

JC – Diariamente, observa-se maior concentração desse público no Jardim Público, Terminal Rodoviário e antiga estação. A Ação Social já tentou uma aproximação?
Sônia Maria Catel Gerner – Sim, porque são pontos utilizados como dormitório. Nossa equipe de abordagem vai até o local para verificar a real situação. Na própria rodoviária, temos um trabalho: assim que a pessoa chega, é abordada e buscamos saber sua condição. Às vezes, é alguém com problema psiquiátrico, que se perdeu ou migrante itinerante. São pessoas que merecem todo nosso respeito, por isso reforço o trabalho intersetorial.

JC – De que forma a população pode colaborar para não incentivar a permanência desses indivíduos nas ruas?
Luci Helena Wendel Ferreira – Basicamente, não dar esmolas e não incentivá-los a continuarem nessa situação. Há pessoas que passam e dão algum alimento, ou vizinhos que os ajudam de alguma maneira. Com isso, recebendo ajuda, torna-se cômoda a situação.

JC – Em Rio Claro, qual o perfil dos moradores/situação de rua?
Luci Helena Wendel Ferreira – Em sua maioria, são do sexo masculino, entre 20 e 40 anos. Mulheres é uma proporção mínima. Devido ao medo e riscos de se viver nas ruas, elas não andam em grupo e têm um comportamento diferenciado, com menos exposição.

JC – Das abordagens realizadas pela secretaria nas ruas, qual a justificativa dessas pessoas que as levaram a viver nessas condições?
Sônia Maria Catel Gerner – Desestrutura familiar é o principal motivo. Fim do casamento, morte de algum ente ou briga são fatores que evoluíram para essa situação. Em Rio Claro, temos ex-médicos e ex-engenheiros vivendo nas ruas.

JC – Neste trabalho, qual o limite da Ação Social?
Sônia Maria Catel Gerner – Hoje, a Secretaria de Ação Social é uma política pública, e não assistencialismo. Oferecemos uma rede de serviços para trabalhar a prevenção e auxiliar a pessoa em situação de vulnerabilidade social, a fim de que haja recuperação da mesma. São parcerias com entidades e programas sociais que compõem o trabalho. Em meio a tudo isso, há muito diálogo para que as coisas aconteçam em sua plenitude.

JC – Não basta tirá-las das ruas, e sim oferecer ajuda para que tenham um direcionamento junto à sociedade. Isso acontece?
Luci Helena Wendel Ferreira – O Cras é a porta de entrada para a Secretaria de Ação Social. Após serem avaliadas e passarem pelo serviço, temos disponíveis o Centro Público de Economia Solidária, a Cooperativa de Trabalho dos Catadores de Materiais Reaproveitáveis de Rio Claro , Centro de Qualificação Profissional, Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), entre tantos outros programas para atendê-las.

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