Dr. Antônio Carlos do Nascimento – Endocrinologista

A doença de Alzheimer (DA) é um processo degenerativo cerebral no qual agrupamentos de células parecem capitular mediante a deposição de algumas proteínas. A morte ou a perda da função de inúmeros neurônios promovem deficits progressivos na cognição, memória, linguagem e comportamento (entre outros) limitando sobremaneira a qualidade de vida do idoso.

À medida em que os avanços científicos promovem maior longevidade, vê-se um aumento bastante rápido no percentual da população idosa por todo o planeta e então os estudo–s acerca da DA são cada vez mais frequentes. O que ocorre sob a ótica dos microscópios é conhecido, mas os caminhos que levam aos danos não são compreendidos em suas plenitudes.

A investigação comportamental de portadores e não portadores desta doença durante suas vidas tem bastante importância, à medida em que pode ditar regras para prevenirmos a ocorrência dessa patologia. Estes estudos são feitos por meio de inúmeros questionários, respondidos por familiares (eventualmente outros) que apontam suas condutas em vários itens. Tais dados são alinhados aos seus históricos clínicos e tratamentos correspondentes.

O estudo mais recente sobre o tema foi publicado na prestigiada revista Neurology em 17 de junho deste ano, intitulado Healthy Lifestyle And The Risk of Alzheimer Dementia (estilo de vida saudável e o risco de doença de Alzheimer). Não fumar, praticar atividade física moderada ou intensa com frequência, consumo leve a moderado de álcool, atividades cognitivas desafiadoras e dieta estilo mediterrânico foram os cinco itens definidos como protetivos contra esta patologia. 

A pesquisa aponta que a adoção de quatro ou cinco desses comportamentos durante a vida reduziriam em 60% o risco de evolução para o Alzheimer, no que cabem algumas considerações deste colunista.

Os danos causados pelo tabagismo são bem conhecidos e, portanto, ser fator contributivo para desenvolvimento de DA é apenas mais uma das mazelas impostas aos tabagistas.

De outro lado, a prática de exercícios físicos melhora todos os nossos sistemas e está relacionada às substâncias liberadas pela musculatura exercitada, assim como o fortalecimento do sistema musculoesquelético. As substâncias circulantes patrocinadas pela prática de exercícios também possuem ações benéficas em vários setores cerebrais, assim como a oxigenação aumentada pelo maior fluxo sanguíneo deve ter importante contribuição positiva.

O consumo leve a moderado de álcool surge reiteradamente como um dos comportamentos vantajosos em estudos balizadores de longevidade, muito embora suscite uma enormidade de questionamentos, entre eles as várias famílias desfeitas em razão do vício de seu consumo. Seus benefícios orgânicos mais conhecidos se relacionam ao seu envolvimento metabólico e resultantes protetoras cardiovasculares. 

Atividades cognitivas desafiadoras podem ser representadas por aprendizado de línguas, jogar xadrez, preencher palavras cruzadas, ler livros e jornais, assim como desafios pessoais mantidos. Todas as vezes que abordo a conduta alimentar, como fiz na coluna anterior, eu anoto que a melhor dieta é aquela que não refuta nenhum grupo de alimentos e é tão melhor quanto mais rica for em fibras. A dieta do Mediterrâneo preenche esses quesitos.

Os principais representantes do modelo nutricional mediterrânico são os grãos integrais, vegetais e frutas, castanhas, azeite de oliva, peixes, laticínios e vinho. É bastante curioso que essa dieta seja rotineiramente elencada como padrão ouro na maior parte dos trabalhos científicos relacionando dieta e melhor desempenho de nossos sistemas, e ainda assim todos os dias sejam alardeadas alternativas dietéticas tão dissonantes.

É dito popular que os grandes amigos são contados nos dedos de uma só mão e ao menos para evitar o Alzheimer parece que o adágio se confirma!

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