O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

Jaime Leitão

Em poucos dias, perdemos vidas que eram referências nas áreas em que atuavam, ligadas à cultura, à arte, ao pensamento transformador.

Intelectuais como o sociólogo e escritor José Arthur Giannotti, o ex-ministro da Cultura Francisco Weffort e o pensador Roberto Romano nos deixaram.

Vivemos uma época tão lúgubre, com a cultura sendo atacada por forças obscurantistas, e ainda por cima perdemos referências tão significativas.

Nos últimos dias, foram duas perdas no cinema, no teatro e na televisão: Paulo José e Tarcísio Meira também, que também partiram. Quantos filmes, quantas peças teatrais, quantas novelas tiveram a presença marcante deles, protagonistas em cenas de ficção, mas que penetraram na realidade de milhões de brasileiros que até há pouco tempo chamavam esses atores pelos nomes dos personagens mais icônicos que encarnaram.

Paulo José, brilhante em Macunaíma, dirigido pelo cineasta Joaquim Pedro de Andrade, Tarcísio Meira participando da série magnífica “Grande Sertão: Veredas”, baseada no extraordinário romance de João Guimarães Rosa, da Globo, ou da primeira versão da novela Irmãos Coragem.

Em dupla com a sua eterna amada, Glória Menezes, esteve em inúmeras novelas, quase sempre como galã, mocinho, mas em outras como vilão.

A morte e a Covid não têm dado trégua. Essa visitante incômoda nos coloca em xeque por perdas familiares e de amigos, mas também por perda de pessoas que estão no nosso imaginário e que na TV e no teatro permanecem em nós bem vivas.

Uma frase de Francisco Weffort merece ser lembrada nesses tempos anticultura: “Quando você desenvolve a cultura, multiplica o espaço para vozes que refletem sobre os problemas da sociedade. Se o Ministério da Cultura funcionar, a criticidade da cultura brasileira dará grande contribuição ao desenvolvimento democrático do país”.

Fecho os olhos e vejo tanques de guerra desfilando diante do Palácio do Planalto. Cadê o Ministério da Cultura? Acabou. E a democracia? Resiste a duras penas.

Perdemos referências. E isso dói muito. Precisamos reconstruir o que foi devorado pela insana atitude daqueles que não reconhecem a importância da cultura, da arte, que só veem na sua frente ódio, morte, sem nenhum apreço pela vida.

O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.[email protected]

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