O que faz os ouvidos dos rio-clarenses? Foi essa pergunta que o JC buscou responder ao analisar os dados do YouTube, atualmente plataforma digital mais usada para ouvir música no país e no mundo. A metodologia se baseia em semelhante usada recentemente pelo jornal Folha de S.Paulo, que trouxe as músicas mais tocadas no Brasil.

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Segundo dados analisados de 1º de março de 2017 a 18 de dezembro de 2017, os rio-clarenses ouviram mais de 2,2 milhões de vezes o cantor de funk MC Kevinho, listado como o mais ouvido na Cidade Azul. Na sequência estão Marília Mendonça, Henrique & Juliano e Galinha Pintadinha [confira a lista dos 20 mais no fim da matéria]. O ranking se aproxima do nacional, porém com algumas variações. Segundo os dados da Folha, na lista nacional a mais ouvida é Marília Mendonça, seguida por Henrique & Juliano e a cantora gospel Bruna Karla; nacionalmente, MC Kevinho está em nono. Na Cidade Azul, a música mais ouvida foi “Rabiola”, de MC Kevinho. [Confira avaliação sobre os números locais na Coluna Play.]

YouTube – Segundo os dados, 95% dos usuários brasileiros do YouTube usam o serviço para ouvir música. Sendo que 49% das pessoas descobrem música por meio de rádios, enquanto 40% descobrem por amigos e parentes, 27% por serviços de música online e 25% por redes sociais.

A PREVALÊNCIA DO SERTANEJO

Dos vinte artistas mais tocados em Rio Claro, oito são cantores sertanejos. Essa prevalência acontece também em todo País, na mesma proporção. O músico e produtor cultural Welton Nadai credita essa dominação do sertanejo ao mercado que investe nesse setor. “Eles são os mais acessados porque, provavelmente, existe maior investimento para divulgação das imagens deles, independente do artista ser relevante ou não artisticamente falando. Existe um investimento maciço nesses artistas, porque existe uma cadeia de eventos muito fabulosa”, apontou.

Para Welton, a internet nunca foi democrática e funciona da mesma forma que o ‘jabá’ nas rádios. “Esse sistema de adição, que são as publicidades pagas, eles que fazem a onda acontecer, porque você pode perceber que quando está assistindo a um vídeo aparecem sugestões de outros vídeos que você nem conhece; as maiores vítimas são os jovens, porque não têm nenhuma referência artística”, opinou. Entretanto, apesar dos modismos, o músico acredita que o que é bom vai passar pelo crivo da história. “Tom Jobim, independente dos artistas mencionados, nenhum deles tem a capacidade, a genialidade dele. Daqui a 40 anos Tom Jobim continuará sendo Tom Jobim e esses artistas aí, como são medianos, vão acabar sendo substituídos por outras figuras, esse sistema é predatório, precisa haver novidades.”

Apesar de tudo isso, Welton lembrou que a internet também possibilitou acesso a raridades. “A internet também possibilitou às pessoas que queriam ter acesso à música erudita, que era uma coisa extremamente cara e difícil de achar, hoje está muito mais fácil; então na verdade o mundo não vai acabar, mas também não vai melhorar, vai continuar meio do jeito que está, mas vai da gente como produtores culturais e gestores divulgar cada vez mais o que é um bom trabalho, pois o mercado é implacável.”

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O SEMPRE AMADO BATISTA

Dentre os mais ouvidos na Cidade Azul, muitos são artistas novos e jovens, entretanto há que se destacar a presença de dois veteranos. Nada de Roberto Carlos ou Chico Buarque, os destaques são: Milionário & José Rico e Amado Batista – a prova viva de que a música boa sempre será valorizada. Vale lembrar que Amado Batista também figura com destaque no ranking nacional.

O músico rio-clarense Rogério Borin, que atua há 14 anos como baixista de Amado Batista, disse que não se surpreende ao ver o chefe entre os mais ouvidos. “Eu que viajo o Brasil inteiro não me espanto que o Amado é um dos vinte mais tocados no YouTube não só em Rio Claro, como no Brasil todo. Ele ainda é o maior vendedor de discos, porque ele canta a linguagem do público, do povo, ele não fala do amor abstrato, é uma linguagem simples e o Brasil é simples”, disse Borin.

Borin contou ainda que os shows de Amado são sucesso garantido. “A gente faz, em média, de 12 a 15 shows por mês e o povo canta todas as músicas, é impressionante chega até a emocionar, 60 mil pessoas cantando junto.” O músico lembrou ainda que, diferente dos cantores atuais, Amado faz um show somente com músicas autorais e que é reverenciado pelas duplas sertanejas de sucesso. “Ele é referência para Leonardo, Eduardo Costa, Jorge & Mateus, Léo Magalhães e Maiara & Maraísa, que inclusive estiveram no camarim outro dia e falaram que queriam gravar uma música do Amado.”

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O FUNK QUE DOMINA

MC Kevinho é o artista mais ouvido em Rio Claro. Das cidades da região, o município é o único que traz um MC entre os mais tocados. Além disso, dos vinte artistas do ranking local, cinco são funkeiros. Para o crítico musical Lucas Reginato, autor do livro “Funk: a batida eletrônica dos bailes cariocas que contagiou o Brasil”, 2017 foi ótimo para o funk em relação a novos talentos. “Destaco nesse sentido o MC Fióti, que aprendeu a produzir as próprias músicas e virou febre mundial com ‘bum bum tam tam’. Em relação ao sertanejo universitário, vejo com bons olhos que seja superado pelo funk, para mim mais autêntico e próximo à realidade do país. É, aliás, uma tendência mundial a ascensão de gêneros eletrônicos originais, como o hip-hop, que superou pela primeira vez o rock nos Estados Unidos”, apontou o especialista.

Lucas ressaltou ainda que a internet é um meio de consumo mais democrático que a rádio ou a televisão, pois qualquer pessoa pode disponibilizar conteúdo e escutar qualquer música a qualquer hora. “Por mais que o funk tenha surgido antes da internet, ele nunca teria chegado ao patamar atual sem a rede, tanto que os principais canais de funk estão no YouTube, como Kondzilla e GR6. A estrutura da rede conecta o Brasil inteiro. Há muitas canções que explodem na internet sem nunca terem tocado na rádio. Isso não quer dizer que o investimento em mídia ainda não seja relevante. Um ótimo exemplo é o produtor Yuri Martins, que estourou um punhado de músicas em 2017, mas nenhuma com a repercussão de ‘Vai Malandra’, que ele fez para a Anitta, porque esta no dia seguinte estava em todas as rádios e canais de televisão do Brasil.”

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