Conjunto de prédios que foram ocupados pela antiga Cervejaria Rio Claro está à venda. Processo trabalhista está em tramitação na Justiça desde 2001 (Foto: Arquivo Público e Histórico de Rio Claro)

O antigo prédio que foi ocupado por décadas pela Cervejaria Skol Caracu em Rio Claro seguirá sem um novo dono e destino no município, já que o leilão que pretendia vender o local pelo montante de quase R$ 44 milhões terminou nesta terça-feira (19) sem compradores. O imóvel histórico, localizado na esquina da Avenida 2 com a Rua 7, estava ocupado até alguns meses atrás por uma faculdade particular. O leilão, porém, abrigava um lote extenso que atinge todo aquele quarteirão, chegando à Rua 8 e também à Avenida 4, incluindo uma residência aos fundos.

Todo o espaço está sob responsabilidade do ex-prefeito Kal Machado. Trata-se de um processo judicial, que tramita desde o ano de 2001 pelo Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região de Limeira, ao qual Rio Claro é pertencente. O político passou a gerir todo aquele conjunto com cinco prédios quando a então cervejaria fechou as portas na cidade de Rio Claro na década de 90.

Posteriormente, o local começou a abrigar unidades de ensino. Depois, a empresa de educação foi vendida pelo ex-prefeito. Sabe-se que, porém, ex-funcionários, professores e trabalhadores da empresa educacional que atuaram no espaço moveram processo na Justiça pelos direitos trabalhistas contra os proprietários da empresa educacional vendida pelo ex-prefeito e até hoje há uma indefinição sobre isso e Machado acabou arrolado no processo.

O imóvel histórico, localizado na esquina da Avenida 2 com a Rua 7, estava ocupado até alguns meses atrás por uma faculdade particular

Segundo apurado pelo JC, cerca de 75% das ações teriam sido quitadas. O residual de passivo trabalhista a ser acertado poderia ser resolvido com o leilão, o qual foi o quarto a ser realizado e mais uma vez sem sucesso. O lance mínimo no leilão era de 50% do valor estimado, isto é, de quase R$ 22 milhões, mas a sessão de venda terminou sem nenhum lance apesar de quase mil interessados terem acessado o anúncio de venda.

Uma dúvida é levantada quanto à usabilidade de quem investir naquele imóvel, uma vez que está dentro do perímetro de tombamento histórico do Condephaat, diante da localidade do Museu Histórico e Pedagógico “Amador Bueno da Veiga”, que fica defronte ao conjunto da antiga Cervejaria. A Ambev, empresa gestora das marcas Skol e Caracu, foi contatada pela reportagem para se manifestar se haveria interesse em recuperar o prédio, mas não retornou o contato.

História

Segundo o livro Patrimônio Edificado, do Arquivo Público e Histórico de Rio Claro, a Cervejaria Rio Claro foi fundada em 1886, pelo Cel. Carlos Pinho. Por volta de 1902, a fábrica de cerveja foi vendida para Júlio Stern que, em 1910, transformou-a em Sociedade Anônima, com a denominação de “Cervejaria Rio Claro – Companhia Industrial”. Em 1919, por carta de arrematação, Oscar Baptista da Costa tornou-se proprietário da fábrica de cerveja, tendo formado, em sociedade com sua mulher, a “Cervejaria Rio Claro Ltda”.

Em 1929, atingida pela crise econômica mundial, a empresa chegou à beira da falência, ocasião em que o industrial de Sorocaba, Comendador Nicolau Scarpa, assumiu sua direção. Nos meses seguintes, o Comendador Scarpa comprou todas as quotas da cervejaria, assumindo integralmente a propriedade, sendo o responsável por sua grande expansão industrial e comercial.

Em 1942, com o falecimento do Comendador Nicolau Scarpa, seus filhos assumiram a direção da cervejaria, dando grande impulso nos negócios, especialmente à marca “Caracu”, que passou a dominar o mercado de cervejas pretas em todo o Brasil. Em 30 de janeiro de 1945, ocorreu a transformação da sociedade por quotas para sociedade anônima, passando a empresa a denominar-se “Companhia Cervejaria Rio Claro”.

Mais tarde, em Assembleia Geral Extraordinária, realizada em 10 de setembro de 1957, a denominação social foi alterada para “Companhia Cervejaria Caracu”, naturalmente devido à grande identificação da cervejaria com a sua principal marca. Nessa época, a cervejaria, com a matriz em Rio Claro, já possuía fábricas associadas em Londrina, Rio de Janeiro e Santos. Em 1967, a Caracu vendeu o controle acionário de suas associadas “Maltaria e Cervejaria Londrina S/A”, de Londrina, e “Companhia Cervejaria Cayru”, do Rio de Janeiro, para a Skol International que, dessa forma, ingressou no mercado brasileiro.

Em dezembro de 1969, a Skol incorporou a Companhia Cervejaria Caracu, que foi transformada em Regional Rio Claro, subordinada à matriz no Rio de Janeiro, com outras fábricas pelo Brasil e sob a denominação de “Cervejarias Reunidas Skol Caracu S/A”. Logo após, a unidade de Rio Claro lançava a primeira cerveja brasileira em lata, com enorme sucesso.

Em 1975, a Skol International, cuja sede era em Portugal, com ramificação na África Portuguesa, sofreu grande abalo devido aos movimentos de independência de Moçambique e Angola e à própria revolução em Portugal, que derrubou a ditadura salazarista. Em vista das dificuldades, o Grupo Português vendeu as ações da Skol brasileira ao grupo canadense Brascan. Em 27 de abril de 1980, a Brascan vendeu todo o controle acionário para a Companhia Cervejaria Brahma, empresa brasileira.

Ao longo de sua história, a Cervejaria conquistou diversos prêmios: Medalha de Ouro na Feira de Bulding Modern Homes Industrial Exposition de Londres em 1933; Medalha de Ouro: Grande prêmio na Expozizione Mostra Campionare Firenze, 1934; Medalha de Ouro na 1ª Feira de Amostras de Santos Granée; Diploma de Honra conferido à cerveja Caracu na 1ª Feira das Indústrias Agrícolas no Brasil; Medalha de Ouro para as cervejas e refrescos na 1ª Feira de Amostras de São Paulo e Diploma de Honra na exposição Industrial de Rio Claro.

Após a fase como cervejaria, o local ficou sem uso. Após alguns anos passou a ser a sede do Colégio Anglo.  Abrigou até os últimos anos a Escola Superior de Tecnologia e Educação de Rio Claro, mantida pela Associação de Escolas Reunidas – ASSER, onde são oferecidos diversos cursos de graduação, pós-graduação e extensão. Depois, pela Unicep nos últimos meses até seu fechamento.

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Conjunto de prédios que foram ocupados pela antiga Cervejaria Rio Claro está à venda. Processo trabalhista está em tramitação na Justiça desde 2001 (Foto: Arquivo Público e Histórico de Rio Claro)

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