O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

Jaime Leitão

Estamos em plena temporada de floração dos ipês-amarelos. Beleza que nos deixa embevecidos, conectados com a natureza em toda a sua exuberância.

Temos então motivos para sorrir, para comemorar o fato de vivermos em um país com essa biodiversidade incrível? Até um certo ponto.

Poderíamos desfrutar de toda essa beleza não fosse a falta de sensatez daqueles que deveriam zelar pela proteção do meio ambiente e que permitem que ele seja devastado de uma maneira inclemente. Não se trata de invenção, mas de um fato detectado pelos satélites, que não mentem.

Estamos à beira de um colapso energético e muito pouco está sendo feito para evitar um apagão e racionamento de água em larga escala. A inflação morde o bolso dos brasileiros, que, em sua maioria, mal consegue garantir o arroz e feijão na mesa todos os dias.

Quando vejo o presidente participando de motociatas ou montando em cavalo como um general que lembra o imperador Calígula, da peça homônima de Albert Camus, penso, em que dimensão estamos? Na dimensão da beleza de nossas praias, montanhas, florestas ou na dimensão do horror, da falta de bom senso, que parece cada vez mais tomar corpo, ameaçando a liberdade, a democracia, a educação, a arte, a cultura?

Ainda vivendo uma pandemia que continua forte, ameaçadora, observamos imagens de pessoas nas praias, em festas, em baladas, sem usar máscara como se estivéssemos no melhor dos mundos.

Às vezes parece que tomamos uma água na qual colocaram algum produto alucinógeno. Não é possível que toda essa loucura esteja acontecendo e que muita gente ainda, mesmo passando por necessidades financeiras, ache que está tudo certo, tudo em ordem, que o salvador da pátria está aí pronto para nos defender de um inimigo invisível e que ele diz ser muito perigoso. Como acreditar nessa narrativa que parece saída de uma peça do teatro do absurdo? Não consigo entender. Não consigo mesmo.

O absurdo avança e não sabemos mais se estamos na plateia ou se somos personagens dessa loucura toda. Fomos abduzidos por seres de outro planeta e chegamos a uma terra de nome Brasil, mas com acontecimentos muito estranhos? Muitas perguntas, nenhuma resposta.

O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

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