Era 1959 quando começava a ser fabricado no Brasil um dos maiores xodós de pessoas como o advogado Frederico Custodio, de 40 anos. Esse xodó era o Fusca Volkswagem. E, mesmo em 2022, 63 anos depois, tem muita gente como ele que não abre mão de ter um carro desses na garagem.

O modelo icônico 68 de cor verde caribe chegou às mãos do rio-clarense em 2007. Ele comprou o carro pela internet há 15 anos. No começo, a ideia era reformar e vender. Mas não teve jeito. Foi amor à primeira vista.

“Chegou com seu cansado motor 1300 e pouco mais de 40 cavalos. A volta com ele de Vinhedo (SP) foi uma verdadeira epopeia, mas cheguei em casa em segurança, ali ele já mostrava seu valor. O carro estava muito pior do que eu imaginava. Motor fraco, cambio roncando, direção com uma folga enorme. Apesar disso, fiquei apaixonado”, disse ele.

Frederico conta que mexeu bastante no Fusca. As principais modificações aconteceram no motor, na suspensão e nos freios. Ele relata ainda que trocou o anêmico carburador original por uma weber de duplo corpo de 40 milímetros. Isso reforçou o fôlego do motor. 

Os freios foram melhorados para dar mais segurança, já que o motor passou a ter mais potência. A suspensão também recebeu tratamento especial, com amortecedores adequados à nova condição do carro. Por dentro, o popular fusquinha recebeu acabamento em couro e tapeçaria em carpete bouclê, que remete aos Porsches da década de 60. 

Vendeu, se arrependeu e comprou de volta

O besouro verde caribe ficou por meses numa oficina da cidade. No entanto, os dias passavam e o projeto não andava. Foi aí que Frederico decidiu vencer o carro e comprar outro, um Fusca 1973. Mas ao colocar a cabeça no travesseiro, sentiu que era impossível esquecer o verdinho. 

“Em 2016 perguntei ao amigo que intermediou a venda, qual o estado do carro, e ele me disse que ele continuava exatamente no mesmo lugar, do mesmo jeito e desmontado. Perguntei se o atual dono me venderia de volta. Alguns poucos dias depois, esse amigo disse que não tinha interesse. Meses depois, ainda em 2016, toca meu telefone, e este amigo me disse que a pessoa que comprou perdeu o interesse no carro e que venderia. Fiquei entusiasmado! Preço fechado. Perguntei sobre o documento, afinal, era necessário voltar para o meu nome. A surpresa aconteceu quando este meu amigo me disse: ‘fique calmo, o carro ainda estava em seu nome’. O bom filho, retornava ao lar”.

O amor por carros antigos

O rio-clarense disse ao JC que nas memórias afetivas da década de 80, época em que era criança, eram férteis para a admiração pelos carros, devido ao cuidado que pessoas próximas tinham com esses automóveis.  É bom lembrar que, naquela época, as importações, inclusive de carros, não eram regulamentadas no Brasil. As pessoas usavam a criatividade para deixar os carros representando sua personalidade. 

“Rodas de magnésio, escapamentos esportivos, rodas largas, aparelhos de som especiais, volantes esportivos entre outros acessórios era tudo comprado avulso. Inclusive, me recordo de um sábado de manhã, acompanhar meu pai a uma dessas lojas de peças. Estávamos ali porque ele foi instalar uma antena elétrica Truffi . Nota aos mais jovens: as antenas elétricas ficavam recolhidas, e quando a pessoa ligava o rádio elas subiam majestosas. No trânsito, não havia quem não admirasse. Tudo isso, pra mim, é tão vivo hoje quanto na época”, recordou.

Para Frederico, o mais interessante de gostar de carros mora no fato de que a partir da sua entrada neste mundo, uma porta se abriu. “Hoje posso dizer de maneira certeira que meus mais bem quistos amigos são aqueles que compartilham o carinho e amor aos veículos antigos. Uns gostam da originalidade, outros de caminhões, alguns outros de carros com motores V8. Não importa o modelo, o estado de conservação, o ano. As viagens juntos, as risadas, os perrengues na estrada se transformam em histórias. A troca de conhecimento, as infindáveis prosas são tão importantes quanto os carros em si. E nesse caminho todo amante de carros antigos acaba por conhecer profissionais de funilaria, tapeçaria, mecânica, etc.. Não raro, você se vê comendo e bebendo na mesma mesa, compartilhando bons momentos com esses profissionais”, conclui.

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