Murillo Pompermayer

A ciência nos diz que não é possível voltar no tempo. Ao menos por enquanto. Mas, e se o passado se fizer presente? É justamente isso que Letícia Tonon, secretária de Cultura de Santa Gertrudes, tem como anseio. A cidade, por 50 anos, contou com o lendário serviço de alto-falantes “A Voz de Santa Gertrudes”, que mantinha seus moradores informados quanto aos principais acontecimentos. Letícia encabeça uma iniciativa cujo propósito é fazer com que esse serviço volte a integrar a rotina do município. “A ideia de revitalizar o serviço de alto-falantes é um sonho antigo. Afinal, podemos considerar que é um dos responsáveis pelo nascimento da cidade de Santa Gertrudes”, pondera Letícia.

Roque Arthur (à direita) quando da inauguração já na Avenida 1, em 1957; abaixo, com Fiori Gigliotti
Roque Arthur (à direita) quando da inauguração já na Avenida 1, em 1957; abaixo, com Fiori Gigliotti

HISTÓRIA
A secretária relata que o serviço foi fundado em 1948 com o propósito de incentivar a população a votar “sim” no plebiscito que iria decidir pela emancipação político-administrativa de Santa Gertrudes. Letícia conta que foi esta a única maneira de disseminar a ideia e convencer a população da mesma. Letícia diz que, primeiramente, o serviço foi montado na casa paroquial, sob o comando do padre Alfredo. Posteriormente, a família Soave adquiriu e deu continuidade.

Entretanto, uma crise com relação ao serviço se estabeleceu. No início da década de 2000, Letícia lembra que Roque Arthur – que foi quem adquiriu o serviço da família Soave e que por mais tempo esteve à frente dos microfones –, já era aposentado e colocava dinheiro do próprio bolso para manter o serviço em funcionamento. Já em 2008, ele próprio desativou e guardou os equipamentos em sua casa. “Na época conversei com ele sobre a importância daquele meio de comunicação e falei sobre sua revitalização, além da possibilidade de levar algumas peças mais antigas para um memorial ou um museu”, relembra.

Dois anos depois, Roque Arthur entrou em contato com Letícia e lhe perguntou se ainda queria revitalizar ou montar um museu. Acabou, depois, doando a ela alguns dos discos de vinil, equipamentos, transmissores, valvulados, cornetas, documentos, entre outros itens. “O serviço de alto-falantes é um patrimônio oral, e devemos documentar a sua trajetória, que pode ser vista no ‘Museu Falante’ de Santa Gertrudes, inaugurado em agosto de 2014. Temos a obrigação de lutar por sua revitalização, mesmo que de forma contemporânea”, avalia Letícia.

ASPIRAÇÃO
A secretária diz que o prefeito Rogério Pascon (PTB) compartilha do mesmo sonho. Letícia afiança que não é um projeto barato e precisa ser planejado. “Teremos programas tradicionais e, também, novos formatos”, almeja.

VÍDEOS

A história do serviço de alto-falantes “A Voz de Santa Gertrudes” pode ser vista no documentário “Voz”, realizado em 2014: https://www.youtube.com/watch?v=0uxTZpBisZM

O curta “O Bilhete”, de 2006, retrata também a trajetória do serviço. Foi premiado pelo projeto “Revelando os Brasis”, do Ministério da Cultura. Em 2008, mesmo ano em que o filme recebeu prêmio no “Festival internacional de Cinema de Itu”, o serviço de alto-falantes “A Voz de Santa Gertrudes” foi desativado. Assista ao curta “O Bilhete”: https://www.youtube.com/watch?v=RpPbDGp0b_s

Vídeo institucional do “Museu Falante”, que fica, em Santa Gertrudes, no Centro Cultural Isidoro Demarchi, na Rua 1, nº 790, no Centro: https://www.youtube.com/watch?v=IVdq0K7xVHA

 

 

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