O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

Jaime Leitão

O primeiro show da minha vida, que eu me lembre, foi em 1967, com Roberto Carlos no auge da Jovem Guarda, no Ginástico. Há 53 anos. O Rei, apelidado assim pelo “Velho Guerreiro” Chacrinha, cantava músicas que agradavam principalmente a adolescentes, a maioria de autoria de Roberto e Erasmo.

Uma que me marcou nesse período foi “Quero que vá tudo pro inferno”. O rebelde romântico nos eletrizava. Todos nós seríamos capazes de largar tudo, nem que fosse só na imaginação, e de fato era, pelo amor que surgia nas brincadeiras dançantes, quando havia um clima romântico, com garotas sentadas esperando o chamado para dançar. Os que eram rejeitados levavam “tábua”, eram alvo de piadinhas daqueles que se achavam os tais, os conquistadores do pedaço.

“História do Homem Mau” também é dessa época e foge à linha romântica que predominava na maioria das músicas que interpretava.

“Pega Ladrão” tem uma pegada de rock, com letra ingênua, sobre um ladrão que roubou um coração que “era uma joia pendurada num cordão”.

Outras músicas que marcaram época na voz de Roberto foram “Lobo Mau”, “Eu sou Terrível”; mais tarde, o Roberto Carlos da Jovem Guarda deu lugar ao Roberto ainda mais romântico com “Amante à moda antiga”.

Para mim, de todas as músicas do Roberto, a que eu considero a melhor de todas é “Fera Ferida”, que foi interpretada de forma sublime em 1987 por Caetano Veloso.

Em um dos seus primeiros álbuns, Roberto Carlos cantou músicas ingênuas que tinham uma doçura que era tocante como “Aquele Beijo que te Dei”, “Não quero ver você triste”, declamada, não cantada; “A Garota do Baile”. Desse álbum também é “Brucutu”.

É estranho confrontar presente e passado remoto. Roberto Carlos aos 80 e, voltando mais de cinco décadas, vendo-o cantando em um show lotado, quando ele tinha 26 anos e eu não mais que 14.

Outro cantor que está próximo de chegar aos 80 é Ney Matogrosso, que completará essa idade em setembro próximo. Assisti a um show espetacular dele também no Ginástico há mais de 30 anos, não sei precisar a data.

Tempo e memória. Música e memória.  Cada uma delas se relaciona com fatos da nossa juventude que foi embora faz tempo, mas que permanece viva em nós para sempre.

O Roberto Carlos das décadas 1960 e 70 é o melhor no meu entender, porque havia algo de revolucionário nas suas músicas, visão essa interpretada pelo olhar de adolescentes românticos, apaixonados e que acreditavam em um mundo onde o amor prevaleceria sobre todos os outros valores. Santa ingenuidade.

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