O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

Jaime Leitão

As reações humanas são imprevisíveis nas situações as mais variadas. Quando estive em Roma em 1996, presenciei uma pequena colisão entre dois carros e, em seguida, uma discussão que parecia que iria se transformar em um embate físico. Minutos depois, no restaurante em frente ao local da colisão, vi em uma mesa os protagonistas do entrevero tomando um vinho e resolvendo de forma civilizada e tranquila o que havia acontecido, com desfecho à la italiana, com vinho e bom humor.

Já há outras ocasiões, ainda no trânsito, em que um carro fechando o outro pode resultar em uma briga, com desfecho trágico, com um dos motoristas partindo para cima do outro com ferocidade, fazendo com que todos os problemas cotidianos de um dos protagonistas se transformem em uma explosão incontrolável. Daí o risco de flexibilizar a posse de arma. Quem a possui, mesmo que não tenha nenhum histórico de violência, portando uma arma, poderá usá-la e provocar uma tragédia, que não ocorreria se o motorista nervoso não estivesse armado.

A CPI da Pandemia, em andamento no Senado, tem contribuído para que o presidente libere a sua ira contra todos que o criticam, principalmente a imprensa, buscando inimigos em toda parte. Em vez de buscar equilíbrio e conselhos para enfrentar uma situação grave, provocada por ele mesmo, permanece no confronto, agindo de maneira beligerante, evitando achar um jeito de agir mais sereno, o que parece totalmente incompatível com o seu perfil.

Amiga minha de São Paulo, quando era fechada no trânsito, em vez de gritar, xingar, mandava um beijo para o motorista que vinha em sua direção, fazendo com que ele se sentisse constrangido com a reação imprevisível da Sandra.

Entre o tempero e o destempero, fico com o tempero. A palavra destempero me faz imaginar um prato com excesso de sal, muita pimenta no arroz, feijão e carne, denotando um desequilíbrio por parte do cozinheiro que o fez. Mesma coisa, na realidade. Quanto mais destemperados estamos, mais risco corremos de causar um mal a nós e àqueles de quem divergimos, seja na política ou em situações cotidianas, como no trânsito.

Os destemperados gritam, xingam, berram. Já os que têm comportamento oposto, sereno, mesmo em situações críticas, costumam se dar melhor. Isso não significa que não tenhamos momentos de destempero. Só que reações pontuais diferem de reações agressivas constantes, que tendem a levar o destemperado a viver em um conflito permanente, com prejuízo da própria saúde e da saúde dos que convivem com ele.

Bom final de semana.

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