O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

Jaime Leitão

O jegue ultimamente estava um tanto esquecido. Além de ter sido meio de transporte importante no Nordeste durante séculos, era personagem significativo na música de compositores de forró, como Genival Lacerda, autor e intérprete da música “De quem é esse jegue?”. Genival Lacerda faleceu em fevereiro último aos 89 anos.


O cordelista nordestino Miguezinho da Princesa é autor do cordel: “O Testamento do Jegue”, no qual o jegue que está deixando a vida termina a sua missão aqui na Terra criticando os políticos corruptos, em uma linguagem simples e comunicativa. Jegue inteligente esse. Chamar jumento e jegue de burro é uma grande afronta a esse animal que tem uma história longa, nas mais variadas regiões do planeta, em épocas diversas.


Por que eu estou colocando o jegue em destaque nesta crônica? Quem ressuscitou o jegue não fui eu, mas o presidente.


Na sexta-feira, dia 11 último, Bolsonaro participou de mais uma carreata, agora em Vitória, Espírito Santo. Aglomerar é a sua maneira de agir constante.


Aproveitou a estada em Vitória e entrou em um avião comercial para cumprimentar os passageiros. Os que o apoiam deliraram, gritando: – Mito, tirando selfie. Os que não compartilham dessa adoração gritaram um Fora, rebatido por ele, que disse que quem pede Fora Bolsonaro deveria viajar de jegue.


Eu pergunto: – O que que o jegue tem com isso? Deixe o jegue em paz. Não fale mal do jegue, presidente, é preconceito contra esse animal que merece respeito.


Ele entrou no avião para fazer barulho e não respeitou os passageiros, que pagaram passagem e que não são obrigados a ouvir gritos ideológicos que fomentam a polarização, desarmonia, nesse momento em que o País sofre com o aumento absurdo de mortes por Covid.


Viva o jegue. Abaixo colocar o jegue como centro de uma pregação fanática e obtusa. Dentro de um avião deve estar quem vai viajar, não quem vai para ofender os que não concordam com esse tipo de manifestação minutos antes da decolagem.


Que situação!! Eu repito: – Presidente, deixe o jegue em paz. Se o jegue fosse político, penso que não diria tal disparate.

O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.
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