O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

Jaime Leitão

Quando um país mergulha em uma crise econômica e social sem precedentes, como é o caso do Brasil na atualidade, resta a trabalhadores desempregados e sem uma qualificação para conseguir um emprego formal ser camelô.

Ninguém é camelô porque quer trabalhar ao ar livre, enfrentando a chuva e aglomerações, sendo perseguido por fiscais.

Reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” de ontem (04/07/2021) traz em destaque: “Ambulantes lotam Brás e calçadas da Paulista”, muitos deles em frente ao prédio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)”. Essa presença é emblemática e também paradoxal. As indústrias são representadas por um edifício pomposo, mas inúmeras pelo país estão demitindo ou decretando férias quase sempre pré-demissionárias.

Quem passa por eles com um olhar de reprovação não tem a dimensão do drama que vivem; um grande número de imigrantes que saíram dos seus países de origem na esperança de ter aqui condições melhores de vida para sustentar a família. Amarga ilusão.

Os ambulantes sofrem com os poucos recursos daqueles que costumavam comprar os seus produtos e também com a reprovação dos que têm comércio estabelecido e são contrários a ter a frente de suas lojas tomadas por eles.

Ambulantes em grande número sinalizam que há uma crise gigantesca. Quando a economia está estável e a inflação controlada, o número de camelôs se reduz sensivelmente. Não é o caso agora.

Durante mais de um ano, o número de ambulantes, segundo relatos de quem mora na região, diminuiu sensivelmente devido à pandemia. Muitos sobreviveram da solidariedade de pessoas e ONGs sensíveis ao sofrimento de tanta gente sem recursos para comprar ao menos comida para não passar fome.

Ainda com a pandemia acontecendo, eles tomam as ruas e tentam vender de tudo: marmita, máscara, bandeira de time de futebol, camisetas, meias, livros usados e uma variedade de produtos, comestíveis e não comestíveis.

A reclamação dos camelôs e de todos que são sensíveis a essa realidade trágica se baseia em que falta política pública que crie condições para que essas pessoas consigam emprego sem necessitar se expor a riscos diversos na rua.

Tudo indica que ainda durante muitos anos o Brasil conviverá com essa situação terrível que assola grande parte dos brasileiros e imigrantes. Não são empreendedores, mas sofredores, pedindo desesperadamente para sobreviver em meio à desolação e à falta de apoio por parte dos governantes.

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