O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

Jaime Leitão

Ao completar 25 anos da conquista do seu terceiro título em Roland Garros, na França, Gustavo Kuerten, o Guga, afirmou que, se não fosse a lesão no quadril que o tirou das quadras, ele poderia ter atingido os 5 títulos naquele que é um dos mais importantes torneios de tênis do mundo. É possível, mas não passa de uma hipótese.

Ainda no terreno das hipóteses nos esportes, poderíamos dizer que se Neymar não tivesse se contundido após entrada dura do jogador colombiano, na Copa de 2014, talvez o Brasil não tivesse sofrido aquela goleada vexaminosa, os tenebrosos 7X1. Como saber?

Uma hipótese mais factível é que, se o atual governo não tivesse negligenciado por tanto tempo comprar vacina, o número de mortes pela Covid não atingiria índices tão devastadores, quase 500.000. Essa hipótese deve ser mais considerada.

No terreno pessoal, as hipóteses aparecem em inúmeras situações. Aquele sujeito nervoso, que perde a calma com a maior facilidade, pensa depois do ocorrido: – se eu tivesse contado até dez, teria evitado aquela discussão desagradável que quase terminou em bofetadas. Também é uma hipótese factível, já que a outra parte poderia ficar desestimulada a manter vivo o conflito, caso o nervoso do lado de cá não desse corda para  manter o clima pesado naquele momento.

A hipótese que vem a seguir é incontestável. Se Roberto Baggio, um dos maiores jogadores do mundo na época, tivesse feito o gol, o último na cobrança de pênaltis na Copa de 1994, depois do empate no tempo regulamentar e na prorrogação, a Itália teria sido campeã e o Brasil vice.

Outras hipóteses: se João não tivesse caído no golpe do bilhete premiado, não teria vivido uma sequência de problemas financeiros a partir daquela bobeada que lhe causou também um dano psicológico de grande monta; se Paula não tivesse se casado com Antônio, não teria sido tão maltratada; já se tivesse se casado com Luciano, teria uma vida feliz, sem brutalidade.

Se Cristina não tivesse esquecido a pasta com documentos da empresa no metrô, não teria sido demitida e ficado desempregada por tanto tempo; se Aurélio não tivesse caído da bicicleta, não teria sido atropelado por um carro, o que lhe causou ferimentos graves.

Vivemos entre o real e o hipotético, entre o que acontece e o que poderia ter acontecido. Cada vez mais somos invadidos pelo universo virtual que nos leva muitas vezes à confusão entre o que é e o que não é real.

Muito antes de entrarmos nessa era tecnológica, já convivíamos com a hipótese, com aquela dúvida sobre como seria a nossa vida se alguns fatos tivessem acontecido de maneira diferente.

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