Jaime Leitão

Nos primeiros meses da pandemia, começou a circular na mídia a ideia de que no pós-pandemia passaríamos a viver o que passou a ser chamado de novo normal.

Um ano depois, com as 300.000 mortes contabilizadas, e com a pandemia em ritmo acelerado, não há nenhum novo normal nem velho normal, há uma situação preocupante completamente anormal.

Não é normal um país vivendo essa tragédia toda e, assim mesmo, o presidente da República e um número significativo de seus seguidores desprezar o uso de máscara e se posicionar contra um lockdown de dez ou quinze dias para diminuir a taxa de mortos e infectados.

Seria ótimo se não houvesse essa pressão terrível sobre o sistema hospitalar, com um grande número de doentes esperando por uma vaga de UTI, com muitos morrendo antes de ter a chance de lutar pela vida, com respiradores e oxigênio em quantidade suficiente.

Não é normal um presidente da República aparecer nas redes sociais imitando uma pessoa sufocada, morrendo de falta de ar, fazendo pouco de perdas familiares que não podem ser reparadas de nenhuma maneira.

Não é normal também esse mesmo governo demorar tanto tempo para liberar o auxílio emergencial, em um valor em média três vezes menor do que o que foi pago no ano passado, quando deveria pagar o dobro do auxílio anterior, com apoio do Congresso, evitando dessa forma um processo, nesse período excepcional.

Vivemos uma anormalidade que parece interminável, sem uma sinalização do presidente de que vá se empenhar de fato para adquirir vacinas em vários laboratórios, sem fazer onda ou críticas a laboratórios ou a governos de outros países.

Não estamos em uma situação confortável como afirmou há dias o líder do governo na Câmara Ricardo Barros. Não é só desconfortável, mas desesperadora. Sem uma liderança que saiba fazer articulações que permitam que o Brasil passe a ser visto de novo como um país de verdade, que se  move em direção a negociações para trazer vacinas em grande quantidade para cá o quanto antes, as contaminações e as mortes continuarão avançando de maneira descontrolada.

Com um ministro das Relações Exteriores completamente confuso e hostil com países que poderiam nos vender mais vacinas, Ernesto Araújo, permaneceremos nesse estado de anormalidade absoluta.

Não existe novo normal. Pelo menos até agora não dá para vislumbrá-lo no horizonte próximo. Nem no distante. Há um caos instalado no Poder Central que parece ter tentáculos em outras esferas do poder que cada vez mais geram caos e morte, nada além disso.

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