Jaime Leitão

Vinte anos se passaram desde aquele dia triste demais para todos nós que o amamos. O senhor Luiz Martins Rodrigues Filho, querido pai, fez a grande viagem que todos nós faremos um dia. A viagem inevitável, dolorosa, amarga. Essa viagem que foi tema de muitos dos seus poemas.

Durante a sua presença, nos 77 anos de sua existência, o senhor exalou poesia, amor, amizade, transmitindo a todos que o conheceram conhecimento, de uma forma doce, sensível, maneira de ser própria das pessoas iluminadas.

Apaixonado pela língua portuguesa, pela literatura e também pelo cinema, foi mestre de várias gerações, que até hoje expressam a sua admiração pelo senhor, que tinha um prazer imenso em compartilhar com os alunos a sua sabedoria sem afetação, simples, verdadeira.

Na infância, graças ao senhor,  convivi com esse mundo mágico da literatura, ouvindo em discos poemas de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles, Adalgisa Nery, Pablo Neruda, Nicolás Guillen, João Cabral, Murilo Mendes, falados pelos próprios autores. Também os Jograis.

Descobri o cinema de Charlie Chaplin, o Carlitos, o seu favorito, Ingmar Bergman, Luís Buñuel, Federico Fellini, Pasolini, Orson Welles e muitos outros, seguindo as suas sugestões.

Frequentei com o senhor na adolescência alguns cineclubes, começando a penetrar no universo incrível e desconcertante do cinema de arte.

Quando completei 16 anos, o meu presente de aniversário foi me levar para assistir no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, à montagem extraordinária da peça “O Balcão”, de Jean Genet. Até hoje sinto a vibração daquele momento inesquecível que o senhor, meu querido pai, me proporcionou.

Nosso amigo David Chagas levou pessoalmente a Drummond, no Rio, o livro “Suor do Tempo”, no qual o senhor colocou os poemas mais significativos que produziu em mais de quatro décadas. Drummond gostou muito da sua poesia e lhe escreveu uma carta com um comentário elogioso e merecido. Mais tarde o senhor publicou mais um livro de poesia: “Ofício de Viver” e deixou inéditos artigos sobre filmes, livros, política, que poderiam ter resultado em várias obras. Um destaque para o Dicionário de Cineastas.

Hoje, o seu nome e a sua memória continuam mais vivos do que nunca. Os que foram seus alunos reconhecem o seu imenso valor. No Novo Wenzel, o senhor é o patrono, nome de escola já há quase vinte anos. Nada mais apropriado para homenagear quem sempre valorizou o conhecimento, a educação, tão desprezados na atualidade.

Pai, aceite o meu carinho e também o carinho de todos aqueles que o admiram tanto.

Pai, o senhor permanece em nós intacto, vivo, presente.

O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

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