O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

Abro a edição eletrônica do jornal “O Estado de S. Paulo” e dou de cara com a manchete: “Fuga de profissionais para os EUA é a maior em uma década”. São médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, dentistas que saem daqui buscando maior reconhecimento profissional e salário compatível com a sua capacidade e currículo.

Esses brasileiros se enquadram na categoria EB2, voltada para “profissionais excepcionais”. Em 2020, foi registrada alta de 36% na concessão de vistos para esses profissionais qualificados.

Com isso, a escassez desses profissionais só aumenta, nesse momento em que eles são mais do que necessários para atuar no combate à pandemia.

Eu pergunto: – eles estão errados? Eu respondo: – Não. Se estão indo embora, é porque não encontraram aqui condições para que desenvolvam a atividade para a qual se capacitaram durante anos e até mais de uma década.

A decisão de deixar o país, os parentes, os amigos, a casa onde habitavam para se adaptar a uma nova realidade e a uma cultura bem diversa da nossa é uma tarefa difícil, complicada.

O imigrante tem que atender a exigências rigorosas para validar o diploma, além de outros trâmites burocráticos. Alguns profissionais gastam mais de R$ 100 mil e correm ainda o risco de não se adaptar e voltar ao Brasil desencantados.

É claro que a condição desses profissionais é bem diferente dos imigrantes que vão para os EUA como ilegais, pagando um valor alto para atravessadores que não garantem que eles consigam driblar a fiscalização e permanecer naquele país trabalhando como garçons, diaristas ou outra profissão que não exige maior qualificação.

Semana passada, vários brasileiros retornaram para cá, algemados, deportados, sem dinheiro e sem emprego. Situação humilhante.

Ser imigrante sempre é problemático. O ideal é que o país em que nasceram garanta a ele uma vida digna. A Constituição garante esse direito. Mas a realidade é bem diferente do que está escrito.

Com um país em crise, um governo descoordenado, milhões de desempregados, a migração passa a ser um sonho de muitos, que muitas vezes termina em pesadelo.

Com a desvalorização da educação, do conhecimento, da profissionalização em cursos de ponta, acessível à maioria da população, continuaremos na rabeira, bem atrás do avanço que se verifica nos países que já estão há muito tempo entre os mais desenvolvidos. É uma pena, um atraso que dificilmente será reparado nos próximos anos ou décadas. Vivemos a nossa tragédia enquanto o presidente se exibe em motos como um super-herói que vive em outra frequência e em outro planeta.

Bom final de semana.

O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

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