O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

Jaime Leitão

Em um país que vive uma tragédia humana sem precedentes, ler notícia sobre desperdício de milhões de reais em vacinas, testes e insumos vencidos, nos deixa profundamente chocados e indignados.

Manchete do jornal “O Estado de S. Paulo”, da última quarta-feira, trouxe esse fato aterrador: “Prazo de vacinas e testes vence e prejuízo chega a 80 milhões”.

Segundo a reportagem, o material vencido está estocado em um depósito do Ministério da Saúde em Guarulhos.

Há meses li notícia semelhante sobre milhares de testes vencidos e que o governo estava buscando junto à Anvisa esticar a validade dos mesmos. Pelo jeito, nada foi feito e a tão propalada logística do ministério, desde os tempos em que o ministro da Saúde era o general Pazuello, não passou de uma falácia, de um discurso insustentável na realidade.

Ainda segundo a reportagem, “o ministério foi alertado ao menos duas vezes sobre a proximidade da data de validade de 32 tipos de insumos, incluindo kits para diagnóstico de covid, dengue e chikungunya e imunizantes contra a gripe e meningite; documentos da pasta relatam o desperdício”.

No mesmo dia em que vi dezenas de pessoas procurando em uma montanha de ossos, descartados de supermercado, um pouco de proteína para alimentar a família, vejo esse descalabro que nunca poderia ocorrer.

Como justificar tamanha negligência e falta de apreço pela dignidade humana?

Ninguém vai catar osso para comer se tiver condições mínimas para comprar um pouco de carne de segunda. A que ponto chegamos. Ao ponto de não possuirmos mais um referencial que nos dê uma luz para que possamos vislumbrar uma melhora em um horizonte próximo. Estamos no fundo do poço e sem escada ou rampa para sairmos dele. Isso é assustador.

A sua assinatura é fundamental para continuarmos a oferecer informação de qualidade e credibilidade. Apoie o jornalismo do Jornal Cidade. Clique aqui.