Júlio Monfardini e Henrique Guimarães conversam com o jornalista durante entrevista especial feita ao Grupo JC

Antonio Archangelo

O Jornal Cidade conversou essa semana com dois delegados da Polícia Federal que vivem no município. Confira a entrevista:

Júlio Monfardini e Henrique Guimarães conversam com o jornalista durante entrevista especial feita ao Grupo JC
Júlio Monfardini e Henrique Guimarães conversam com o jornalista durante entrevista especial feita ao Grupo JC

JC – Rio Claro, qual a relação com a cidade?

Henrique – Minha família é daqui, meu vô é daqui. Meu avô era primo de Ulysses Guimarães, parente por parte do pai. Minha avó tem nome de escola “Djiliah Camargo de Souza”. Tive o prazer de conhecer Ulysses na Constituinte, estava entrando para a faculdade. Era uma pessoa muito lúcida.

Júlio – Vim para cá porque a família da minha mulher é de Rio Claro. Tomei a decisão: vamos para São Paulo ou para Rio Claro? Tomei a feliz decisão de vir para cá.

JC – Como veem o município?

Júlio – Eu adoro esta cidade, ser rico é você poder comer pão fresco na padaria. E essa cidade te dá isso aqui. Você tem bons restaurantes, bons hospitais, você tem tudo aqui. Foi uma feliz decisão. Eu só tenho elogios.

Henrique – Você se sente bem na cidade, sempre fui criado aqui. Fiz um vínculo de amigos e conhecidos. Já morei em outras cidades, mas meu objetivo era sempre voltar. Meu filho estuda na mesma escola onde meu pai estudou, onde minha mulher estudou e onde estudei. Então a cidade permite este vínculo.

Júlio – A cidade tem os seus problemas, mas se você for pra Santa Gertrudes você também terá. Mas ainda está num padrão aceitável de qualidade de vida.

JC – Em cima desta constatação sua, lembro que a Opinião Pública vive se queixando da violência em Rio Claro. Como encaram esta concepção?

Henrique – Como fui criado aqui, lembro-me que com 10 anos eu poderia ficar na rua. Quem viveu em Rio Claro dez anos atrás vai se achar inseguro. Mas quem convive com outros municípios, você vê que não está tão ruim.

Júlio – Esta visão macro permite ver assim. Uma coisa que faz parte é a globalização da notícia. Isso aumenta inclusive a sensação ou não de segurança. Que aumentou , aumentou, mas proporcionalmente a cidade tem índices aceitáveis.

JC – O que precisa melhorar na cidade?

Júlio – No meu bairro não tenho reclamação. Mas é uma visão fechada. Minha rotina é uma reta só. Não tenho essa dimensão.

Henrique – A classe política tem que mudar urgente. O sistema continua o mesmo em Rio Claro. Isso afeta as instituições locais. Percebemos que existem muitas coisas a melhorar, minha esposa dá aula numa escola municipal. Uma política educacional complicada. As mesmas carinhas de sempre, precisa haver uma renovação.

JC – Já que tocaram no tema “política”, qual a análise que fazem de Rio Claro?

Henrique – Quando falo da necessidade de renovação, uso como exemplo disso a votação do Calixto, que acredito que foi um voto de protesto. O que acontece, o candidato do Bonsucesso é fulano, o das Palmeiras é o ciclano, então esse lance de curral eleitoral é muito forte.

Júlio – Vou votar pela primeira vez em Rio Claro no ano que vem. Mas pelo que sei, na última eleição, não tinha opção. Tinha o que foi reeleito, e um senhor. Não teve concorrência, isso eu sei. Na eleição passada trabalhei, fizemos até alguns flagrantes. Normalmente eu consulto meu sogro. Nascido aqui, antigo daqui, é aposentado do Banespa, com certeza vou me basear nele.

JC – E com a análise da política nacional?

Henrique – As notícias falam por si mesmas. Nunca se roubou tanto neste país. Quem leu sobre a Intentona Comunista, você vê que existem fases para se manter o poder. E estamos na próxima fase: desacreditar nas instituições. E algumas destas instituições estão se mantendo. O STF deu essa prisão do Delcídio mais para resguardar a instituição. Se elas forem desacreditadas, é um caminho sem volta.

Júlio – Uma coisa legal é que existe esperança sim. Olha o trabalho da Polícia Federal, do Ministério Público e dos Judiciais que estão fazendo. A polícia está fazendo sua parte. Segue-se uma doutrina que sempre foi utilizada para prender pessoas poderosas com o recrutamento de pessoas de várias unidades. Essa oxigenação minimiza o descrédito, melhora a qualidade e dificulta os acordos. Na Lava-Jato tem gente do país inteiro.

JC – Existe um controle governamental da Polícia Federal?

Júlio – Eu nunca sofri uma vírgula.

Henrique – Nem eu. Penso que a classe está pleiteando muita coisa: autonomia financeira, o direito de eleger o diretor-geral por votos dos integrantes, como o Ministério Público fez. Foi assim que o MP se fortaleceu tendo essa autonomia. A PF tinha que ter essa autonomia, para que o diretor não seja nomeado pelo ministro da Justiça. Quem vai decidir o futuro da instituição são os políticos.

JC – E essa sensação de impunidade? É comum os presos chorarem durante as operações?

Henrique – Será que se não houvesse os ministros citados no áudio do Delcídio haveria sido determinada a prisão dele? Fizeram isso para se preservar ou porque era um caso grave? Eu quero acreditar que é pelo fato ser grave. Estamos em outros tempos, as garantias que colocaram na Constituição para manter o regime democrático deveriam ser revistas. A legislação não ajuda. Estamos num outro patamar, temos que evoluir na questão legislativa. Sobre os presos, é comum.

Júlio – Neste sentido que entra nosso trabalho, nossa técnica. Para você revelar a verdade. Às vezes ele vem com uma história. A polícia federal trabalha basicamente com inteligência. Quando vem a prisão, já existe um conjunto probatório construído. Sobre a necessidade de atualização da legislação para eliminar a impunidade, vou dar um exemplo, aqui o direito de silêncio dá a possibilidade da pessoa mentir. O que não acontece em países de primeiro mundo.

JC – Nesta situação de descrédito das instituições, muitas pessoas estão pedindo a volta da ditadura. O que pensam?

Júlio – Um absurdo. Essa parte da sociedade vislumbro como um outro extremo ideológico. Em hipótese nenhuma podemos querer a volta do militarismo. Precisamos reforçar as instituições. Garantir liberdade de imprensa, ter uma polícia forte, ter uma receita forte, um Judiciário forte. Por exemplo, se um juiz for pego estuprando, ele vai ser aposentado com rendimentos integrais, isso é um absurdo e acaba gerando este sentimento de volta à Ditadura, o que é inconcebível.

Henrique – Precisamos acabar com as prerrogativas políticas. Tem que ser mudado. Mas considero um absurdo cogitar a volta da Ditadura, nem mesmo eles querem. O militarismo não resolverá nada.

A sua assinatura é fundamental para continuarmos a oferecer informação de qualidade e credibilidade. Apoie o jornalismo do Jornal Cidade. Clique aqui.