O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

Fazia tempo que não vivíamos tão sufocados. Difícil respirar em um país dominado por aqueles que desconsideram a importância e o significado da literatura, da arte, da cultura em geral, estabelecendo para si e para os que compartilham de suas ideias um padrão de pensamento retrógrado e autoritário.

Li o brilhante artigo da Sandra Baldessin, que tem como título: “Canções que Brotam na Escuridão, publicado no Jornal Cidade, no último domingo, no qual coloca em destaque a 34ª edição da Bienal de São Paulo, que tem como título: “Faz escuro, mas eu canto”, verso de autoria do poeta amazonense Thiago de Mello.

A partir do seu texto reflexivo, sensível, sobre essa nossa época tão carregada de escuridão, volto no tempo, à minha adolescência, quando estive mais de uma vez em excursão visitando a Bienal, por iniciativa do nosso Prof. de Desenho, Biagio Mezzarana, que abriu para todos nós essa visão da arte além de um enfoque acadêmico e conservador.

Anos depois, quando morava em São Paulo, na década de 1970, estive na Bienal, com um olhar transformado pela arte e pela minha maneira de ver o mundo. Vivíamos aqui uma ditadura, mas, mesmo assim, a arte se mostrava para nós de forma desconcertante, provocativa, desafiadora. Foi na Bienal que descobri a obra do artista norte-americano, de origem haitiana, Jean-Michel Basquiat, que morreu aos 28 anos, começou a expor a sua arte nos tapumes de Nova York, e hoje é um artista consagrado, com obras presentes nos principais museus de arte moderna e contemporânea do mundo.

Foi na Bienal que conheci também os objetos e a arte interativa de Lygia Clark e os parangolés de Hélio Oiticica.

Na Bienal deste ano, há a presença de um artista multifacetado: desenhista, ator, pensador e teórico do teatro, Antonin Artaud, que morreu em 1948 e ainda provoca reações e discussões intermináveis.

Arte é movimento, é transformação, é busca do novo. Quem vai contra ela, quem a combate, contribui para que a sociedade cada vez mais perca o seu viço, a sua luz, a sua vibração. Não podemos deixar que isso aconteça. A arte tem força para ir além das ditaduras e das crenças que apostam no seu fim, na sua destruição. Isso, creio, nunca ocorrerá.

O colaborador é cronistra, poeta, autor teatral e professor de redação.

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