Vivian Guilherme

Há exatamente um ano, a França viveu seu “Onze de Setembro”. Uma série de atentados realizados pelo Estado Islâmico deixou o mundo em choque e a Europa, em alerta máximo. Mais de 180 pessoas morreram, mais de 350 ficaram feridas, sendo 99 delas em estado grave.

O atentado endureceu as leis de imigração e segurança em toda a Europa, intervindo nas relações entre os países, inclusive na recepção de novos imigrantes. A discussão sobre a intolerância religiosa e xenofobia se tornou o principal tema da cúpula de todos os países do globo. Mas, afinal, o que mudou depois do Treze de Novembro?

A rio-clarense Maria Carolina Schlittler, doutora em Sociologia, comenta que os sucessivos ataques que a sociedade ocidental tem sofrido, cujas autorias têm sido creditadas a grupos extremistas, têm mostrado que a intolerância de países como França e Inglaterra, junto à diversidade étnica e religiosa de seus cidadãos, tem um preço.

“Digo isso pois, na maioria destes ataques, verifica-se que os autores são cidadãos franceses, filhos de imigrantes árabes que foram desde criança tratados como cidadãos de segunda classe, discriminados apesar de terem nascido em território europeu. Tal discriminação mostra que os ideais de justiça, fraternidade e igualdade é perfeito e aplicado apenas aos cidadãos ‘franceses puros’”, comenta a socióloga que morou na França por alguns meses.

Segundo Maria Carolina, os filhos desses imigrantes vivenciam desde a infância a dificuldade de se integrar à cultura francesa. “São eles os mais parados pelos policiais nas abordagens, sofrem as mais diversas discriminações. São excluídos do mercado de trabalho. Esse quadro os deixa mais vulneráveis ao aliciamento de grupos extremistas e terroristas. Esses filhos de imigrantes se tornam alvos fáceis dessas organizações criminosas. A filiação é quase inevitável, como foi verificado na trajetória biográfica dos autores dos atentados de 13 de novembro de 2015.”

Sobre o futuro, a socióloga diz que a sociedade europeia precisa rever o modo como seus cidadãos, filhos de imigrantes, são tratados. “A xenofobia fomenta ataques como estes, uma educação que procure integrar o filho do imigrante é um caminho para mudar essa situação. Estereótipos são construídos diante dessa imagem de que todo árabe é terrorista”, conclui.

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