Imagem: Alan Santos/PR

BRUNO B. SORAGGI – SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A candidatura do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) para o Governo de São Paulo foi oficializada neste sábado (30), durante convenção nacional do partido na capital paulista. O evento também serviu como convenção estadual do PTB-SP.

Tarcísio tem o presidente Jair Bolsonaro (PL) como padrinho político. Foi o chefe do Executivo federal quem idealizou a candidatura dele ao Palácio dos Bandeirantes.

“Hoje é um dia que marca o fim de um ciclo. De um ciclo de um partido que está há 28 anos no poder. Um partido que criou raízes profundas e hoje impede o estado de andar. Um partido que perdeu a sensibilidade, deixou de olhar para as pessoas e não compreende mais o que o cidadão precisa”, disse Tarcísio em discurso.

A frase de Tarcísio é uma referência ao mote da campanha do governador Rodrigo Garcia (PSDB), que se intitula um “paulista raiz”, para fazer contraposição ao ex-ministro de Bolsonaro, que nasceu no Rio de Janeiro.

A primeira-dama Michele Bolsonaro também discursou no evento. “Seja a primeira-dama mais maravilhosa do estado de SP”, disse Michelle Bolsonaro à esposa de Tarcísio de Freitas, Cristiane Freitas. “A missão é árdua. Mas Deus está com vocês.”

A chapa conta também com o apoio do PSD, cujo presidente é o ex-ministro Gilberto Kassab -que é crítico a Bolsonaro. Essa rusga, porém, não inviabiliza a aliança, de acordo com Kassab. Para ele, o apoio se dá no plano estadual, e questões nacionais ficam para a esfera nacional.

A chapa de Tarcísio ainda é composta por Felicio Ramuth (PSD), ex-prefeito de São José dos Campos (SP) que concorre como vice, e Marcos Pontes, ex-ministro vice e o ex-ministro da Ciência, Tecnologias e Inovação que pleiteia ao Senado.

Ramuth chegou a criticar o ex-ministro em entrevistas que deu no primeiro semestre deste ano. Já Pontes foi escolhido depois que o apresentador José Luiz Datena (PSC) desistiu de concorrer pela chapa de Tarcísio.

O evento deste sábado contou com a presença do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que tenta se reeleger deputado federal pelo PTB em São Paulo. Bolsonaristas como os deputados Daniel Silveira (PTB-SP) e Carla Zambelli e o ex-presidente da Fundação Palmares Sergio Camargo, que busca vaga na Câmara, também estiveram na cerimônia, que começou por volta das 11h com a interpretação do Hino Nacional por uma criança vestida com traje cerimonial da Polícia Militar de SP.

Nascido no Rio de Janeiro, Tarcísio trabalhou nos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).
Engenheiro formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), fez carreira como servidor da Câmara dos Deputados até ser transferido para a CGU (Controladoria Geral da União), onde chegou a ser coordenador-geral de auditoria da área de transportes.

Escolhido por Dilma, ele foi diretor-executivo do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) após a “faxina” que a então presidente deflagrou contra esquemas de corrupção.

Como número dois do órgão, ele deu os primeiros passos mais concretos de sua jornada na infraestrutura até chegar ao PPI (Programa de Parceria de Investimentos), primeira medida do ex-presidente Michel Temer, em 2016.

Depois, tornou-se ministro de Bolsonaro quando teve a chance de entrar no gabinete de Bolsonaro ainda no governo de transição, na sede do Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, para defender a manutenção do PPI.

Tarcísio recorrentemente relata esse primeiro contato com Bolsonaro nas apresentações e discursos que faz. Ele costuma agradecer ao presidente pela chance que lhe foi dada no comando da Infraestrutura e repete que nunca pensou em ser ministro -nem governador de SP, o que lhe foi proposto pelo presidente.

O fato de ele não ser paulista é usado contra ele por rivais no pleito deste ano. Quando ainda era pré-candidato ao governo paulista, Márcio França (PSB) chegou a afirmar que a sua primeira pergunta a Tarcísio em um debate seria pra qual time ele torce. O carioca é flamenguista.

Rodrigo Garcia (PSDB), atual governador e postulante à reeleição, também faz questão de ressaltar, em postagens irônicas em redes sociais, que Tarcísio não é de SP. O tucano também utiliza o slogan “paulista raiz” em sua comunicação.

O petista Fernando Haddad também debochou do ex-ministro e do fato de ele ser de fora do estado. “Vai ver que é pra não se perder” escreveu o petista sobre uma proposta de Tarcísio de trazer a sede do Executivo estadual para o centro de São Paulo.

O próprio ex-ministro já afirmou que “ninguém liga para esse negócio de ser paulista”.

Apesar de ter feito praticamente toda a vida política em Brasília, Tarcísio registrou a cidade de São José dos Campos como seu domicílio eleitoral, no fim do ano passado. Assim, ficou apto a concorrer ao cargo no Palácio dos Bandeirantes.

Para justificar a ligação com o município, ele argumenta que tem elos emocionais com a cidade, na qual vivem parentes, e informou à Justiça Eleitoral que tem um apartamento alugado em um bairro nobre da cidade -que, segundo os documentos, foi arrendado do seu cunhado em setembro de 2021.

Em junho, o jornal Folha de S.Paulo visitou o apartamento citado pelo ex-ministro e constatou que ele não mora lá.

A ligação de Tarcísio com o estado foi questionada por adversários, que entraram com representações no Ministério Público e no Tribunal Regional Eleitoral de SP. O primeiro órgão chegou a arquivar um dos questionamentos recebidos. O segundo rejeitou outro feito pela direção do PSOL.

A Polícia Federal também abriu investigação sobre o domicílio eleitoral do ex-ministro, a pedido da Promotoria Eleitoral de São José dos Campos (SP).

O ex-ministro empata com Garcia nas intenções de voto aferidas pela pesquisa Datafolha mais recente sobre o pleito paulista, divulgada no fim de junho. A liderança é ocupada por Haddad, com 34%. Na sequência, em segundo lugar, o tucano e o bolsonarista têm 13%.

A campanha de Tarcísio pretende colar cada vez mais a imagem dele à do presidente Jair Bolsonaro. O ex-ministro já foi criticado por bolsonaristas de alas mais radicais por supostamente não fazer menções a Bolsonaro em eventos dos quais tem participado. Segundo interlocutores do presidente, o próprio chefe do Executivo ficou descontente com isso.

O entorno do ex-ministro, porém, diz que isso não passa de boatos e que a relação dos dois está ótima. Segundo estrategistas de campanha, o fato de Tarcísio ser candidato de Bolsonaro já serve de partida para que o eleitorado identifique o ex-ministro como um candidato do campo conservador.

Por esse raciocínio, o carioca não precisa -nem vai- entrar em assuntos ideológicos como os ataques de Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal e às urnas eletrônicas nem na guerra cultural, embates caros aos bolsonaristas mais árduos.

O núcleo duro de Tarcísio ressalta, ainda, que o presidente escolheu Tarcísio sabendo que ele não é tão radical quanto Bolsonaro e que ele diverge do ex-chefe em assuntos como a vacinação contra a Covid-19.

A estratégia de Tarcísio, segundo pessoas próximas, é acenar aos 40% dos eleitores de Bolsonaro que não sabem quem ele é, aproveitando que, segundo eles, o eleitor paulista também desconhece o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB).

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