Ednéia Silva

O professor Cláudio José von Zuben, especialista em parasitologia, em um dos laboratórios do Departamento de Zoologia da Unesp de Rio Claro
O professor Cláudio José von Zuben, especialista em parasitologia, em um dos laboratórios do Departamento de Zoologia da Unesp de Rio Claro

Em pleno período de estiagem, os casos de dengue continuam surgindo. A transmissão passou a ser contínua e não para durante a seca, como ocorria antes. Isso acontece porque o mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença, adaptou-se ao meio e ficou mais resistente.

A explicação é do professor de Parasitologia, Cláudio José von Zuben, pesquisador do Departamento de Zoologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro. Ele lembra que 2014 está sendo atípico em termos climáticos, tendo o janeiro mais quente dos últimos 20 anos. Mesmo assim, a transmissão de casos de dengue continua. Até o último dia 11, eram 502 casos confirmados na cidade. O fato é creditado à adaptação do vetor ao meio.

O pesquisador comenta que antes o mosquito era encontrado apenas em água limpa, hoje isso mudou. Águas não tão limpas podem se tornar criadouros. Dessa forma, a transmissão está sendo contínua, mesmo em períodos de frio e seca.

O surgimento dessa população mais resistente também pode estar ligado ao uso excessivo e insistente de inseticidas. De acordo com Von Zuben, a nebulização frequente pode criar vetores mais resistentes. Se um local é nebulizado e a eficácia não atinge 100%, os mosquitos sobreviventes podem ficar resistentes ao veneno, exigindo concentrações maiores para se obter resultado. Por isso, o método tem que ser utilizado com rigoroso controle.

Além disso, o pesquisador ressalta que a nebulização causa danos ao meio ambiente, já que não mata apenas o mosquito Aedes aegypti, mas também outros insetos, causando desequilíbrio ecológico.

Outro fato que contribui para a continuidade da transmissão é a mudança climática. O professor observa que há alguns anos Rio Claro não registra um inverno realmente frio. São poucos dias com baixa temperatura e depois retorna o calor. Com isso, os mosquitos conseguem viver mais tempo e picar um maior número de pessoas.

Diferente dos humanos, o mosquito não consegue controlar a temperatura do corpo. Quanto mais quente, maior o desenvolvimento e o tempo de vida. No frio ocorre o contrário, por isso a diminuição da população nesta época e a queda no pico de transmissão.

No entanto, o mais importante é se conscientizar de que sem criadouro não há mosquito da dengue. A eliminação dos criadouros é a forma mais efetiva de combate. A população precisa fazer a sua parte dentro de casa, onde estão 80% dos criadouros. Uma casa com foco do mosquito pode comprometer todo o bairro.

Além disso, é necessário lembrar que existem quatro tipos de vírus da dengue em circulação: 1, 2, 3 e 4. Quem contrai um tipo fica imune apenas a ele e pode pegar os outros tipos com risco de ocorrer hemorragia.

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