Folhapress

Saudado pela primeira vez por seus súditos nesta sexta-feira (9) ao chegar ao Palácio de Buckingham, em Londres, Charles será proclamado o rei Charles 3º neste sábado. Sua coroação, no entanto, ainda não tem data marcada –e pode acontecer daqui a mais de um ano.

Isso acontece porque há dois ritos diferentes envolvidos no processo de sucessão do trono britânico. O primeiro é a ascensão ao trono em si. O rito marca a passagem do trono para o primeiro na linha de sucessão assim que o soberano anterior morre ou abdica do cargo, e é oficializado assim que possível.

No caso de Charles, isso significa nos próximos dois dias. Nesta sexta, ocorre o encontro do Conselho de Ascensão, formado pela primeira-ministra britânica, Liz Truss, o prefeito de Londres, Sadiq Khan, funcionários públicos, altos comissários dos países da Commonwealth [grupo de 56 países que reúne majoritariamente ex-colônias britânicas], e lideranças religiosas, entre outros –o novo rei não participa da reunião. Os membros do conselho assinam então um documento reconhecendo o soberano.

O conselho se reúne novamente no sábado (10), desta vez com a presença do monarca, que fará uma declaração e, seguindo uma tradição do início do século 18, jurará fidelidade à Igreja da Escócia. Em seguida, ele será proclamado o novo rei diante do povo na sacada do palácio de Saint James.

Ao mesmo tempo em que a proclamação é lida no palácio, cerimônias similares acontecem em Edimburgo, Windsor e York. É tradição que os prefeitos dessas cidades bebam em honra ao novo soberano de um cálice de ouro, segundo o jornal britânico The Guardian.

Já a coroação de Charles pode levar meses devido à preparação necessária. Elizabeth 2ª só foi coroada em junho de 1953, quase um ano e meio depois de ser ascender ao trono, em 1952. A cerimônia foi a primeira do tipo a ser televisionada na história.

Charles será o 40º monarca a ser coroado na Abadia de Westminster, tradição que data de 900 anos. A cerimônia é religiosa anglicana e será conduzida pelo Arcebispo de Canterbury, Justin Welby. É ele quem vai colocar a coroa de santo Eduardo na cabeça de Charles –uma peça de ouro maciço, datada de 1661, que pesa mais de dois quilos. Haverá música, leituras e o ritual de unção do novo monarca. Então Charles lerá o juramento de coroação.

Nem todas as monarquias têm cerimônias de coroação. No regime português, por exemplo, os reis eram aclamados, e não coroados ao assumirem o trono.

A tradição foi iniciada pelo primeiro rei da dinastia de Bragança. Após reconquistar a independência de Portugal junto a Espanha, em 1640, dom João 4º entregou simbolicamente sua coroa a uma imagem de Nossa Senhora da Conceição e afirmou que ela seria a “verdadeira rainha de Portugal”. O novo soberano até recebia uma coroa –mas não a colocava na cabeça.

Renovo promessa de Elizabeth 2ª, diz Charles 3º em seu primeiro discurso como rei

O novo rei Charles 3º disse nesta sexta-feira (9) que ao assumir o trono renova o compromisso da sua mãe, Elizabeth 2ª, de dedicar sua vida ao Reino Unido. Em seu primeiro discurso televisionado após a morte de sua mãe, a rainha Elizabeth 2ª, Charles, 73, declarou que ela foi uma grande inspiração.

O discurso foi gravado no Palácio de Buckingham durante a tarde e televisionado às 18h (14h em Brasília) pela BBC, rede de rádio e televisão estatal.

O filho mais velho de Elizabeth, que segundo pesquisas é menos popular que a mãe, será proclamado rei neste sábado (10), em uma reunião do Conselho de Ascensão realizada no Palácio de St James, seguida de proclamações em todo o país. Sua coroação, no entanto, ainda não tem data marcada -e pode acontecer daqui a mais de um ano.

Príncipe herdeiro por mais de 70 anos, Charles chegou a Londres por volta das 14h (8h em Brasília) desta sexta, após ter ido correndo à Escócia visitar a mãe no Castelo de Balmoral, onde ela acabou morrendo.

Ele e sua mulher, Camilla Parker Bowles, agora rainha consorte, vestiam roupas pretas e foram recebidos por uma multidão em frente ao Palácio de Buckingham.

Antes de seguir para o palácio, onde a bandeira do novo soberano estava hasteada, Charles trocou palavras e apertou as mãos de diversos súditos, além de parar para ver as flores depositadas por britânicos e turistas no portão.

Ele se reuniu com a primeira-ministra, Liz Truss, nomeada na terça-feira pela rainha, no último dever público da antiga soberana.

Monarca mais velho a assumir o trono britânico na história e o que passou mais tempo como príncipe herdeiro, Charles deve fazer de seu reinado um período de transição entre o da mãe, venerada pela dedicação ao serviço público, e o do filho William, 40, visto como a modernização da realeza.

Enquanto Elizabeth assumiu o trono quanto o Reino Unido ainda era uma potência, Charles herda um país que vive uma crise de identidade e se tornou um ator secundário na geopolítica global. Além de ter optado por uma guinada isolacionista com o brexit, o divórcio com a União Europeia, tem sua própria existência sob risco.

Estão no horizonte um novo referendo sobre a independência da Escócia, pressões crescentes para a integração da Irlanda do Norte à República da Irlanda e até um ressurgente nacionalismo em Gales -algo particularmente doloroso para um homem que ficou tanto associado à região.

LUTO ATÉ O FUNERAL

O governo declarou luto nacional até o funeral, cuja data ainda não foi confirmada, mas deve ocorrer em cerca de dez dias, e alertou sobre possíveis atrasos em alguns transportes públicos devido às multidões que se reúnem em frente às residências da realeza.

O Palácio de Buckingham também anunciou um período de luto a ser observado por membros da família e da casa real até uma semana após o enterro.

O Banco da Inglaterra disse que atrasaria em uma semana sua reunião mensal para definir as taxas de juros, devido à morte de Elizabeth.

As sessões regulares no parlamento foram substituídas por uma sessão especial para os legisladores prestarem homenagem à rainha. Os parlamentares também se reunirão no sábado, algo que raramente fazem, para aprovar uma mensagem de condolências ao rei.

“Desde as notícias chocantes de ontem à noite, testemunhamos a mais sincera manifestação de pesar pela perda de sua falecida majestade, a rainha”, disse Truss aos legisladores, que fizeram um minuto de silêncio no início da solenidade.

“Sua Majestade, o rei Charles 3º, tem uma responsabilidade incrível que agora carrega por todos nós”, continuou a primeira-ministra. “Ele já deu uma contribuição profunda por meio de seu trabalho em conservação, educação e sua incansável diplomacia. Devemos a ele nossa lealdade e devoção.”

Elizabeth foi chefe de estado do Reino Unido e 14 outros reinos, incluindo Austrália, Canadá, Jamaica, Nova Zelândia e Papua Nova Guiné.

Charles, que automaticamente a sucedeu como rei, disse que a morte foi um momento de grande tristeza para ele e sua família.

A sua assinatura é fundamental para continuarmos a oferecer informação de qualidade e credibilidade. Apoie o jornalismo do Jornal Cidade. Clique aqui.