O mês de novembro já se consolidou como o de campanhas de conscientização sobre a saúde do homem. Novembro Azul tem os holofotes voltados na prevenção e no combate ao câncer de próstata, que é o segundo tumor que mais mata os brasileiros, ficando atrás apenas do câncer de pulmão.

Estimativa do Inca (Instituto Nacional do Câncer), indica que em 2021 são esperados 65.840 novos casos, mas muitos podem nem ser diagnosticados. A SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) obteve informações que indicam aumento de 10% na mortalidade por câncer de próstata em cinco anos: em 2015 eram 14.542 mortos pela doença, número que subiu para 16.033 em 2019.

De acordo com dados da Fundação Municipal de Saúde de Rio Claro, o número de mortes na cidade se manteve estável. Em 2016, foram 13 mortes; em 2017, o número subiu para 15; o índice voltou a cair em 2018, quando 13 homens morreram; em 2019, o número caiu para 11, enquanto em 2020, cresceu para 12. Neste ano, foram contabilizados sete óbitos até agora.

Mas a maior dificuldade ainda é convencer os homens a fazerem os exames por conta do preconceito. Por isso, a ‘Reportagem da Semana’ conversou com o cirurgião robótico e urologista Fabrizio Messetti, de 43 anos, um dos profissionais mais conceituados na área, para esclarecer dúvidas sobre o tumor. Além disso, você vai conhecer a história de dois rio-clarenses que venceram o câncer de próstata. Eles receberam o JC e contaram as experiências que viveram quando foram diagnosticados.

O motorista de aplicativo Djalma Francisco, de 64 anos, morador no Jardim Novo I, descobriu um câncer de próstata agressivo numa consulta de rotina. Ele já tinha histórico na família. Seu avô e um primo foram diagnosticados com a doença. Ao fazer a biópsia, veio o alerta de um tumor.

“Receber a notícia não é nada fácil. Quando o doutor [Fabrizio] me chamou, levei minha esposa e ele abriu o jogo de como seria a operação. Fiquei tenso, mas durante a espera, até o processo cirúrgico, ele me deixou bem mais tranquilo.”

Há dois anos e meio, o motorista de aplicativo fez a retirada do tumor por meio de uma cirurgia robótica, feita com auxílio de um robô manipulado por um cirurgião. O procedimento consiste na remoção total e completa da próstata e das vesículas seminais e é indicado principalmente quando o paciente apresenta doença localizada somente na próstata.

“O paciente foi operado na cidade de São Paulo e recebeu alta dez horas depois do procedimento. A cirurgia foi um sucesso e todas as funções foram preservadas. A doença está indetectável”, explicou o cirurgião Fabrizio Messetti.

Seu Djalma contou ao JC que durante todo o processo se apegou em Deus para que tudo isso acabasse logo. “Agarrei com minha fé em Deus. Tenho certeza que me ajudou muito. É aquela coisa, né: quando a água bate na garganta, a gente olha para cima. Isso, inclusive, fez com que eu me renovasse perante a Ele”, afirmou.

O motorista de aplicativo fez questão de deixar um recado para os homens que têm medo ou vergonha de irem ao médico urologista. “Perca a vergonha. Isso pode levar à perda da vida. E tenho conhecidos que se foram por conta disso. É extremamente importante procurar um médico para se prevenir, pois se tiver algum problema, a chance de reverter a situação é de quase 100%, como o meu caso”, relatou.

José Edmilson foi operado há 20 dias

O analista de sistemas José Edmilson dos Santos, de 51 anos, morador no Jardim América, foi diagnosticado com a doença neste ano. Ao contrário do caso acima, não teve antecedentes na família.

O médico vinha o acompanhando nas consultas de rotina e percebeu uma alteração no PSA, conhecido como Antígeno Prostático Específico, que é uma enzima produzida pelas células da próstata cujo aumento da concentração pode indicar alterações na próstata, como prostatite, hipertrofia benigna da próstata ou câncer. Após isso, fez uma ressonância que confirmou o tumor.

“Quando você descobre, o ‘baque’ é muito grande. Você fica meio perdido. O doutor me explicou todas as possibilidades de tratamento e aí fiquei mais tranquilo. Mas, na hora de passar a informação para a esposa e para a filha, é muito complicado. Quando você começa a pensar no que pode acontecer, a preocupação vem à tona. Afinal, o medo de não poder ver minha filha crescer era grande”, contou.

O analista de sistemas foi operado por uma videolaparoscopia há 20 dias. O procedimento foi realizado por meio de pequenos furos no corpo do paciente, que variam de acordo com o objetivo da cirurgia, e é considerado minimamente invasivo.

Além disso, segundo os especialistas, esse tipo de procedimento traz inúmeras vantagens em relação à operação convencional, como menos dor no pós-operatório, melhores resultados estéticos, recuperação mais rápida do paciente, menor permanência hospitalar e menores riscos de infecções.

“Em pacientes que não têm acesso à cirurgia robótica, essa é uma boa opção. Apesar de ter feito a cirurgia recentemente, já está muito bem. A robótica tem suas vantagens, é claro, mas quando bem indicada, também faz sentido”, salientou Messetti.

Urologista alerta para saúde do homem e prevenção do câncer de próstata

    O JC também conversou com o urologista Fabrizio Messetti para saber qual a importância de realizar o acompanhamento médico, além de orientações sobre sintomas e prevenção.

“O exame de rastreamento é muito importante, pois sabemos que caso diagnosticado na fase inicial, em cinco anos, há uma sobrevida de quase 100%. Ou seja, esse paciente é curado. Agora, quando você encontra um tumor avançado, a sobrevida em cinco anos é menor que 30%. Ou seja, 70% morrem em cinco anos. A principal arma é fazer o diagnóstico precoce uma vez por ano em todos os pacientes acima de 50 anos. Abaixo dessa idade, a gente individualiza cada caso”, explicou.

    O cirurgião robótico afirmou, ainda, que o câncer de próstata é uma doença silenciosa, sem sintomas. E, quando dá sinais, há um problema bem maior, pois a doença geralmente já está avançada. “Se deu sintoma, provavelmente o tratamento será paliativo, sem chances de cura desse paciente”, alertou.

Preconceito e medo

    Uma das principais dificuldades, vista no dia a dia, é o preconceito com o exame da próstata. Índices expedidos pela SBU em 2020, já demonstraram, por meio de uma pesquisa, o abandono do público masculino nos consultórios: mais da metade, 55%, com mais de 40 anos, deixaram de ir ao médico ou até abandonaram o tratamento.

    “Lógico que isso vem diminuindo, mas ainda existe o preconceito. No entanto, é um exame rápido, um pouco desconfortável, mas essencial. Outra coisa é o medo de ter o diagnóstico. É que existe a lenda de que o tratamento está ligado com sequelas de impotência sexual. No entanto, com as técnicas modernas, temos cada vez menos sequelas, como os personagens entrevistados para essa reportagem. Muito maior do que o medo de ter o diagnóstico positivo, é não ter como tratá-lo. Procure um médico e se cuide.” 

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