Jaime Leitão

O meu amigo e leitor Eduardo me enviou hoje um texto via e-mail no qual faz ao mesmo tempo uma análise e um desabafo em relação à realidade perversa que nos assola.

Vou transcrever aqui a sua mensagem: “Estive relendo livros sobre a 2ª Guerra Mundial, quando ocorreu um dos maiores genocídios conhecidos pela humanidade. Milhões de judeus foram sacrificados,  com requintes de crueldade, como sabemos. Com isso, inevitavelmente, fiz uma analogia com o que acontece em nosso país, em que uma ‘família’ faz e desfaz, com ‘rachadinhas’ na Câmara, compra de mansão e leite condensado para o café da manhã a preços exorbitantes, quando deveria dar exemplo de austeridade e equilíbrio, no entanto, minimiza a atual situação da pandemia no Brasil, afirmando que a imprensa aumenta o problema da Covid-19 para desestabilizar o seu governo. Como se sabe, genocídio ocorre quando se mata  um grupo regionalizado para se manter o poder sobre os demais, por conta da cor ou da etnia a que esse grupo pertença. No nosso caso, o genocídio acontece também hoje, pois, além do vírus desconhecer essa diferença, mata sem diferenciar idade ou situação financeira. E, ainda mais, nossos ‘governantes’ estão mais preocupados  em manter um “status” que tomar decisões que preservem vidas. Então, o genocídio continua, em formato novo, mas sempre genocídio”.

Anteontem, o cientista respeitado internacionalmente, Átila Iamarino, afirmou ao site da BBC News Brasil que “o Brasil adotou uma estratégia genocida ao apostar na chamada imunidade de rebanho para combater a Covid-19, o que possibilitou o surgimento de uma nova variante mais perigosa e que vem causando mais mortes.

Concordo com ambos. Faltou ao governo desde o começo da pandemia, há um ano, atitude para enfrentar esse morticínio, causado por uma peste avassaladora . E o negacionismo do presidente, a sua resistência a aderir ao distanciamento social e ao uso de máscara, abre espaço para que cientistas e analistas em geral caracterizem essa tragédia gigantesca como genocídio. Mais de 250.000 mortes e o recrudescimento de casos nas últimas semanas aproximam o país de fatos tão devastadores como massacres que ocorreram em guerras que mataram milhares ou até milhões de pessoas.

O genocídio pode se dar por um ataque a uma população, como ocorreu há alguns anos na Síria, ou por omissão de um governo que poderia evitar grande parte dessas mortes se não fosse na contracorrente dos acontecimentos, negando a dimensão da catástrofe, o que representa uma atitude perversa, indesculpável.

O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

[email protected]

A sua assinatura é fundamental para continuarmos a oferecer informação de qualidade e credibilidade. Apoie o jornalismo do Jornal Cidade. Clique aqui.