Sempre que os antigos carnavais de Rio Claro são relembrados, o nome da passista Valéria aparece em destaque nas lembranças dos foliões da “velha guarda”. O samba no pé e a beleza da sambista que vinha de São Paulo como atração no desfile realizado ao redor do Jardim Público, na década de 70, encantavam o público. Depois de desfilar alguns anos, Valéria nunca mais retornou à cidade, daí o “mistério” que sempre permeia as conversas, nas quais suas participações são relembradas. Até mesmo sua morte foi cogitada, diante da falta de informações sobre “onde estaria Valéria?”.

A reportagem do JC encontrou Valéria Vidal em São Paulo, mais precisamente no tradicional reduto do samba, a Bela Vista. Vivendo num apartamento, viúva, aos 80 anos, a bailarina que fez carreira com apresentações de samba por todo o Brasil e até na Europa declara que tem muitas saudades de Rio Claro, e que um dia ainda pretende retornar à Cidade Azul para rever os amigos que fez durante os carnavais. “A primeira vez que participei de um desfile de Carnaval foi aí em Rio Claro. No Rio de Janeiro e em São Paulo eu fazia apresentações de samba, mas nos palcos das casas noturnas, como bailarina. Fui até Rio Claro somente para passear durante o Carnaval, a convite da Vanda Lopes, uma amiga querida que trabalhava aqui em São Paulo e que tinha uma amiga, a Aparecida, que era de Rio Claro e também trabalhava aqui na Capital. Fui tranquila, sem nem levar roupas adequadas para apresentação, mas acabei sendo convidada para participar, quando me viram dançando num baile aí na cidade”, relembra Valéria.

Lembranças

O sonho de voltar a Rio Claro terá que esperar um pouco. No momento, Valéria espera para passar por uma cirurgia no fêmur, o que vai exigir mais um tempo de repouso. Mas Valéria relata que sempre se recorda dos tempos passados em Rio Claro. “Fui muito bem tratada na cidade, fiz muitos amigos. Depois do primeiro ano, quando foi surpreendida pelo convite, fui convidada em mais dois anos seguintes para desfilar no Carnaval de Rio Claro. Ficava hospedada num hotel próximo ao Jardim Público e, além do desfile na rua, também passávamos pelos clubes que realizavam maravilhosos bailes”, destaca a passista. Nessa época, aliás, não era esse o nome que Valéria e outras bailarinas recebiam. “O nome era rumbeira. Não existiam ainda as rainhas e madrinhas. As mulheres que desfilavam eram as rumbeiras”.

Sucesso nos palcos

Por telefone, a bailarina relembrou ao JC sua carreira nos palcos. Nascida no interior do Rio de Janeiro, começou nos palcos cariocas ainda na adolescência, após chamar a atenção nas aulas de dança que aconteciam nos estúdios da extinta TV Tupi. “Quando menina, ainda morando na fazenda, via as artistas na revista O Cruzeiro, com seus belos figurinos, e sonhava com aquela vida”. Selecionada pelo bailarino argentino Gilberto Brias, passou a integrar o quarteto As Mulatas de Bronze. Sucesso nos palcos cariocas, o show logo foi trazido para São Paulo, dando início a uma carreira na qual Valéria realizou seu sonho. Integrou corpo de bailarinas do famoso Braziliaas, que percorria países da Europa apresentando o samba, e também conquistou vaga entre as famosas Mulatas do Sargentelli. Trabalhou no cinema, conquistando prêmios. Anos mais tarde, decidiu deixar a carreira para viver ao lado do marido, Jorge Alessandro, um chileno descendente de alemães, já falecido.

Amigas

A reportagem do JC chegou até Valéria Vidal através da ajuda de uma outra passista que também se destacou nos antigos carnavais de Rio Claro. Judite Ângelo. Nos anos 70, vinha a Rio Claro, cidade onde tem familiares, somente para desfilar no Carnaval. “Foi um tempo muito bom, o desfile no Centro era uma delícia. Tenho muita vontade de voltar à cidade”, diz Judite, 77 anos, hoje cabeleireira aposentada e que também mora na Bela Vista, na Capital.

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