Tomando antibiótico por conta própria, sem supervisão médica e diagnóstico correto, a pessoa está promovendo uma ‘seleção’ de bactérias mais fortes

Fabíola Cunha

Tomando antibiótico por conta própria, sem supervisão médica e diagnóstico correto, a pessoa está promovendo uma ‘seleção’ de bactérias mais fortes
Tomando antibiótico por conta própria, sem supervisão médica e diagnóstico correto, a pessoa está promovendo uma ‘seleção’ de bactérias mais fortes

Em 1920, o médico escocês Alexander Fleming percebeu que uma substância produzida pelo fungo Penicillium notatum era capaz de matar as bactérias que ele observava, desencadeando a descoberta da penicilina e do que mais tarde seriam os chamados antibióticos. O fato revolucionou a medicina e o mundo do século 20.

Quase 100 anos depois, os tipos de antibióticos desenvolvidos abrangem uma gama ampla de doenças, mas seu uso sem necessidade ou de forma inadequada pode gerar bactérias mais resistentes. Tomando antibiótico por conta própria, sem supervisão médica e diagnóstico correto, a pessoa está promovendo uma ‘seleção’ de bactérias mais fortes, que são então transmitidas a outras pessoas. É a chamada resistência bacteriana, como explica a infectologista Marlirani Dalla Costa Rocha: “Resistência bacteriana é quando uma bactéria desenvolve tolerância a vários grupos de antibióticos, sobrando poucas ou nenhuma opção para tratamento, ou seja, os antibióticos já não conseguem mais matar aquelas bactérias que estão causando aquela infecção”.

Segundo Marlirani, a resistência pode ser promovida pelo uso inadequado e excessivo por seres humanos, inclusive dos antibióticos tópicos (aplicados em feridas, por exemplo): “A prescrição de antibiótico deve ser exclusiva para tratamento de infecções bacterianas e o uso deve respeitar rigorosamente a dose, o intervalo das doses e o tempo de tratamento”, ressalta. Aquela visita à farmácia para comprar antibióticos sem antes passar pelo médico, quando se está com febre, é um erro grave, já que a maioria das doenças que causam elevação da temperatura corpórea tem origem viral e não pode ser combatida com antibióticos.

Uma norma da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de 2011 tentou dificultar a venda de antibióticos nas farmácias, para diminuir o acesso de pessoas que se automedicam. Entre as exigências, o farmacêutico deve atestar o atendimento na parte da frente de ambas as vias da receita, evitando que o paciente se utilize da mesma receita para realizar mais de uma compra em diferentes estabelecimentos.

Segundo Marlirani, o uso indiscriminado dessas substâncias já gerou vários casos de resistência bacteriana, o que complica o tratamento e a cura: “As infecções causadas por bactérias multirresistentes não são necessariamente mais graves, mas são mais difíceis de tratar pela pouca ou ausência de antibióticos ativos”. Para o paciente que gosta de agir por conta própria ou pressiona o médico para receber uma receita de antibiótico, a orientação é simples: “Evitem consumo por conta própria com sobras de tratamentos anteriores, compra sem a prescrição médica ou pressão sobre a equipe médica para o uso”, enfatiza.

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