Tiago Garcia, 34 anos, natural de Rio Claro, é fisioterapeuta. Desde 2013, mora em Ribeirão Preto quando iniciou o mestrado na FMRP – USP. Atualmente, está terminando o doutorado sobre a ação da poluição nas doenças pulmonares e trabalha no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital das Clínicas de Ribeirão.

No momento, soma-se ao exército de profissionais da linha de frente da saúde que trabalha no atendimento a pacientes com Covid-19. Nos desafios diários da rotina de trabalho, colocou-se à disposição para mais uma importante etapa em meio à pandemia: ser voluntário dos ensaios clínicos para testar a eficácia e a segurança da vacina contra o novo coronavírus, a CoronaVac, que está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantã em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac Biotech.

Em entrevista ao Jornal Cidade, Garcia fala sobre a colaboração que traz esperança para salvar vidas em todo o mundo.

Jornal Cidade – Como é a sua rotina de trabalho neste momento?

Tiago Garcia – Minha rotina tem sido exaustiva. A equipe de fisioterapia, atualmente, está 24 horas atuando com Covid-19. Eu trabalhava num outro horário, porém com a necessidade de termos mais fisioterapeutas dentro dessas 24 horas fui deslocado para o turno da noite e tem sido cansativo. Os pacientes demandam muita atenção, principalmente em relação à troca gasosa, a qual nós, fisioterapeutas, estamos aptos a fazê-la.

JC – Por que decidiu se voluntariar para os testes da vacina?

Tiago Garcia – Muitos me questionam sobre ter me voluntariado, mas acredito que, se não fizermos isso, nunca teremos uma vacina comprovada cientificamente contra o novo coronavírus, além de eu ser amante da pesquisa e acreditar muito nela.

JC – Quando foi que recebeu a dose e como será todo o processo de pesquisa do qual participa?

Tiago Garcia – Foram duas doses: a primeira foi no dia 14 de agosto e a segunda, dia 28 do mesmo mês. Preenchemos um formulário no qual informamos que somos da área da saúde e que não tivemos a doença. Após isso, somos submetidos a vários exames, como o da própria Covid (PCR e Swab), e de sangue (hemograma, glicose e enzimas hepáticas). Se tudo estiver bem e o resultado do teste rápido de Covid-19 der negativo, recebemos a vacina e ficamos por uma hora em observação. No retorno, foram realizados os mesmos testes e, agora, irão nos acompanhar durante um ano. Como a pesquisa é duplo cego, não sabemos, tanto eu quanto o pesquisador, quem recebe a vacina do antivírus e quem recebe o placebo.

JC – Você sentiu algum efeito colateral?

Tiago Garcia – Sim, senti alguns efeitos, mesmo não sabendo qual tomei. No primeiro dia foi normal, apenas no outro dia tive dores de estômago e de cabeça. Todos os sintomas tenho que formalizar em um diário que me foi entregue e todos os dias eu faço a mensuração da temperatura e se precisei tomar algum remédio.

JC – Qual é a sua expectativa com relação ao projeto da vacina?

Tiago Garcia – Minha expectativa é a melhor de todas e muito grande em relação a essa e outras pesquisas que têm sido feitas no Brasil e no mundo. Aqui em Ribeirão Preto, grande parte da equipe da área da saúde tem se voluntariado para fazer parte desse e de outros estudos. Porém, a gente precisa ainda lembrar que usar a máscara e manter distanciamento social são essenciais. No entanto, não podemos relaxar e dizer que a pandemia está chegando ao fim por conta da vacina, sendo que há muitas pessoas morrendo ainda por conta da Covid-19. Até que sejam feitas as estatísticas dos estudos comprovando sua eficácia, sejam produzidas, embaladas, disponibilizadas e ser aplicadas em toda a população, vai muito tempo. Até mesmo depois da vacina ser fabricada e aplicada na população devemos ainda manter as precauções. Achar que a vacina vai resolver todo o problema da Covid-19 não é um bom pensamento, porque não sabemos o quanto esse vírus pode ser mutável. Por isso que as pesquisas são importantes! Elas geram avanços do conhecimento em relação às melhorias da qualidade de vida na sociedade em que vivemos.

JC – Como profissional da área da saúde, como avalia o momento que estamos enfrentando?

Tiago Garcia – Este momento foi de grande valia e de incertezas para nós. Demonstrou o quanto somos incapazes de controlar certas coisas, mas, também, mostrou que podemos nos concentrar em outras nas quais não faziam tanto sentido e hoje fazem, como a humanização dentro de um hospital que é tão importante e, às vezes, nem sempre dado o devido valor. Estar dentro de um hospital público de referência me faz acreditar que, após essa pandemia, pode-se aumentar recursos e mostrar o quanto precisamos de mais saúde, educação, mais pesquisas científicas e mais solidariedade uns para com os outros.

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