O Dia Nacional da Doação de Órgãos é celebrado nesta segunda-feira (27), dentro da campanha do Setembro Verde, que busca a conscientização sobre a importância de ser um doador de órgãos. Hoje, a ‘Reportagem da Semana’ vai falar sobre esse gesto de amor, que salva milhares de vidas no país afora.

Era 5 de abril de 2010 quando Edmundo Soares Meyer, que tinha 15 anos, teve morte cerebral  constatada na Santa Casa de Rio Claro, depois de sofrer um acidente na rua onde morava com os pais, em Santa Gertrudes. Ele tinha saído para ir à farmácia em uma motocicleta e se chocou contra um caminhão.

Zélia Rodrigues Soares, no momento mais difícil para uma mãe, tomou uma dura decisão. Depois de feitos os testes que comprovaram a morte encefálica, ela disse um sim que beneficiou ao menos sete pessoas na fila de transplantes: fígado, dois pulmões, duas córneas e dois rins de Edmundo foram captados e transplantados.

“Ele ficou 11 dias sofrendo na UTI. Tomei a decisão de desligar os aparelhos para ele não ficar vegetando. Tudo foi muito difícil, mas saber que ele não voltaria mais para casa, me deixou sem chão. Mas saber que ele contribuiu para salvar outras vidas, me dá um conforto”, conta a auxiliar de limpeza.

Como procedimento padrão, a família não fica sabendo quem recebeu os órgãos, situação que entristece dona Zélia, pois ela queria conhecer as pessoas que ganharam uma nova chance de vida.

“Na época, disseram que iam passar nome por nome. Aí me deu curiosidade de novo esses dias. Mas tenho que entrar com vários documentos. É uma burocracia. Queria saber se as pessoas estão bem, se ficaram felizes em sobreviver por meio dos órgãos do meu filho. Só isso”, explica ela.

Com propriedade, ela diz que permitir o transplante é o que  ela acha que todas as famílias deveriam fazer. “Tem que doar. Outras mães ficarão felizes em ter seus filhos salvos. Ninguém vai embora antes da hora. A morte dele [Edmundo] foi muito triste, mas essa decisão é muito importante. Como não vai aproveitar mais nada, por que não salvar outras vidas?”, questiona ela.

Com os olhos cheios de lágrimas, a mãe diz que do filho se lembra todos os dias e que só guarda lembranças boas e saudades. “Era um filho muito amoroso. Falava que ia trabalhar para poder me ajudar. Ia para a escola, lavava a louça de casa. Acredito que ele ficou feliz com essa decisão que tomei. Minha filha pequena que diz: ‘no céu deveria ter visita’. São 11 anos de muita saudade”, lembra.

É preciso avisar a família para ser um doador

O Brasil realiza vários tipos de transplantes: coração, fígado, pâncreas, rim, pulmão, córnea e medula óssea. Existem dois tipos de doador, segundo o  Ministério: o primeiro é o doador vivo, que pode ser qualquer pessoa que concorde com a doação. Esse tipo de procedimento, obviamente, só se dá em relação a órgãos, partes de órgãos ou tecidos que permitam a doação sem colocar o doador em risco.

E o segundo é feito com doadores mortos, em pacientes que tiveram morte encefálica. Nesses tipos de casos, um ou vários órgãos podem ser doados, mediante aprovação familiar e análise de viabilidade feita por equipe especializada.

A negativa familiar é um dos principais motivos para que um órgão não seja doado no Brasil. No ano passado, 43% das famílias, segundo ABTO (Associação Brasileira de Transplante), recusaram a doação de órgãos de seus pacientes após morte comprovada.

Dados do Ministério da Saúde mostram que, no ano passado, das 6.476  entrevistas familiares para autorização de doação, houve 2.716 negativas, somando 42%, número que vem se mantendo praticamente constante ao longo dos anos.

“É importante falar isso dentro de casa, com vida, porque a doação acontece com o paciente falecido. Aí, a família tem muita dificuldade em dizer sim ou não. É preciso esclarecer que se tem vontade de doar órgãos”, comentou Cinthia Santos, integrante da Cidot (Comissão Intrahospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes) da Santa Casa de Misericórdia de Rio Claro. 

Já a  Maira Valentim, que também integra a Cidot, completou: “Tem que ser um assunto naturalizado e não uma coisa difícil. É preciso conversar num jantar, num fim de semana junto com a família, falando da vontade. É necessário falar de uma forma mais tranquila para não ficar para eles o peso da decisão”, finalizou.

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