Engraxate: uma profissão que dá brilho

O engraxate Claudemir Marques e seu fiel cliente Antonio Lugano que não abre mão de ter os sapatos sempre brilhantes!

Aos 60 anos, Claudemir Marques já passou metade da vida engraxando sapatos. Há três décadas ele exerce a profissão no Jardim Público de Rio Claro. Antes tinha como companhia outros três engraxates, mas todos já faleceram. A referência para dar início ao ofício veio do irmão: “Na família, meu irmão mais velho Luiz Fernando Marques, começou como engraxate aqui no Jardim Público mesmo. Depois ele virou jogador de futebol e foi jogar no Corinthians em 78, 79. Quando deixou os campos voltou a estudar e hoje mora no exterior. Essa na verdade foi a minha primeira lembrança e contato com esse mundo. Antes de eu começar aqui no Jardim eu trabalhei em outros lugares, empresas, mas nada parecido com isso. Depois a profissão veio através de uma necessidade de ajudar minha mãe, gerar renda”, conta.

Segundo Claudemir, o ofício foi aprendido na ‘raça’, mas não tem muito segredo: “Primeiro você passa a escova, limpa bem, na sequência passa a graxa, espera secar e depois você lustra o sapato. No meio de tudo isso a conversa e bom papo com as amizades que a gente fez ao longo desses anos vai dando mais brilho ainda a nossa rotina”, afirma.

Um desses clientes e amigos assíduos da cadeira é o aposentado Antonio Lugato, 79 anos: “Eu acredito que tem pra mais de 10 anos que eu engraxo os meus sapatos com o Claudemir. É como uma tradição pra mim. Eu acredito que o sapato fica mais novo, mais bonito e mais macio para usar. Ele também tem uma cola mágica aqui que quando a sola está querendo desgrudar ele já dá um trato nisso também. Ele é um profissional dedicado, honesto e que tem um ofício muito bonito e importante”, diz Antonio que deu essa entrevista justamente enquanto Claudemir deixava seus sapatos brilhando.

O engraxate Oriel Carlos Cândido, que tem seu espaço na Rua 1 (quiosques), área central

Já quem passa pelos quiosques da Rua 1, ao lado da Estação Ferroviária, pode encontrar seu Oriel Carlos Cândido, 58 anos. Seu espaço é simples, mas cheio de afeto para receber a clientela, que como ele mesmo diz “é pouca hoje”. Um banner feito por ele dá as boas-vindas e apresenta a profissão: “Com humildade, ótimo dia. Engraxate com poltrona para você”.

A história dele no ofício começou ainda criança, com o intuito de ajudar a mãe nas despesas de casa: “Eu não me lembro exatamente quantos anos eu tinha. Naquela época minha família morava no Bairro do Estádio e eu sei que eu colocava uma caixa de madeira nas costas e ia em direção a Praça da Matriz, em frente ao Fórum, e lá eu ia engraxando os sapatos. Quando a freguesia estava pouca ia em direção ao Jardim Público tentar uns trocados também. Esse foi meu primeiro contato com a profissão de engraxate. Era uma época difícil mas os clientes existiam em maior número que agora”, conta.

Com o passar os anos, Oriel abandonou a caixa de madeira e trabalhou em outros ofícios, a maioria em empresas. Há quatro anos voltou a engraxar sapatos, desta vez com um cantinho fixo nos quiosques da Rua 1: “Os clientes estão cada vez mais escassos. A maioria usa tênis. Hoje vejo que nem é mais pelo dinheiro que estou aqui, é uma forma de me sentir útil e poder honrar uma profissão digna como essa”, finaliza.

Engraxate: a profissão que dá brilho tem seu dia sim!

Comemorado ontem, dia 27 de Abril, o dia do engraxate é tradicional, assim como a profissão. Nascida em 1806, quando um operário decidiu polir em sinal de respeito as botas de um general francês e foi recompensado por isso com moedas de ouro, a profissão tenta se manter viva, mesmo com tantas novidades e cada vez menos sapatos sociais.

A profissão chegou no país após a imigração italiana, em 1877, na cidade de São Paulo, com poucos engraxates, que andavam com caixas de madeira debaixo dos braços. A grande maioria eram menores de idade, de 10 a 14 anos. As cadeiras de engraxates foram criadas por Morris Kohn em 1890. Dizem que ele criou estas cadeiras porque ficou preocupado com as colunas destes adolescentes.