Fabíola Cunha

Raimundo em frente à sede da Subprefeitura do Cervezão, onde é coordenador
Raimundo em frente à sede da Subprefeitura do Cervezão, onde é coordenador

Raimundo, como muitos Raimundos, veio de longe. Para ser mais específico, 2.690 km longe. Quando saiu de Canindé, interior do Ceará, em 1971, Raimundo de Almeida Silva não sabia o que iria encontrar em Rio Claro. Ele tinha 25 anos e estava acompanhado da esposa Maria de Fátima, na época com apenas 16 anos.

Lá se vão 43 anos e o estranhamento virou familiaridade. Como uma muda de planta resistente, ele aguentou a distância, a saudade e fez crescer suas raízes no interior paulista.

Apenas da cidade de Canindé, Raimundinho, como é conhecido, estima que haja duas mil pessoas estabelecidas em Rio Claro: “Aqui é uma cidade fácil de se viver, uma cidade boa, sempre foi assim, quando eu vim havia a fábrica da Skol e muitos trabalhavam lá”, diz.

Dos 13 irmãos canindeenses, 6 vieram no decorrer dos anos para cá.

Durante 15 anos, Raimundo não voltou para o Ceará. O bairro onde foi morar era ainda em grande parte inabitado, com extensas porções de vegetação: “Quando cheguei à Lagoa Seca, era uma lagoa mesmo, pescava nela. Onde fica o Jardim Hipódromo, o Sesi, tudo aquilo era mato”, recorda.

Começou como trabalhador braçal na administração municipal da época, seguindo como funcionário público até hoje – é coordenador da Subprefeitura do Cervezão. Com segurança, ele afirma: “Eu sei que é dor de cabeça, mas estou aqui pela competência”.

Em 1986, com a vida mais estável, comprou sua primeira casa e pôde visitar a terra natal. Recentemente, esteve em Canindé, onde participou da Festa de São Francisco das Chagas, evento religioso tradicional que atrai milhares de pessoas anualmente para o município de 77 mil habitantes.

Raimundo conta com bom humor que a visita dos filhos à cidade natal dos pais foi um choque gastronômico: “A comida lá é muito forte, com muita carne de cabrito, de carneiro, eles estranharam bem”.

A primeira onda de imigrantes chegou a Rio Claro em navios, após 1840: alemães e italianos em busca de trabalho e perspectivas mais animadoras nas fazendas de café da região. Depois deles, muitos outros, e nos anos 70 do século passado, chegaram cearenses, paraibanos, pernambucanos, baianos. A mesma esperança, a mesma vontade de trabalhar e construir futuro.

Segundo o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, Rio Claro tem 12.468 residentes nascidos em estados da região Nordeste, ou seja, 6,7% da população de 186.253 contabilizada pelo IBGE em 2010.

Apesar de manifestações xenofóbicas de paulistas contra nordestinos serem frequentes, principalmente nas redes sociais, Raimundinho afirma que nunca foi prejudicado por atos discriminatórios em quatro décadas de Rio Claro: “Nunca senti discriminação, todos aqui são meus amigos e passei por tantas administrações sem problemas”. Para o futuro, vislumbra viagens à terra natal e também à Região Nordeste: “Mas também quero tomar sorvete no Jardim Público”.

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